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Festival de Parintins, uma arrepiante Ópera na Floresta

Festival de Parintins: Pajé do Boi Caprichoso
Netto Simões, Pajé do Boi Caprichoso, numa das suas magníficas atuações no Festival Folclórico de Parintins

Arrepiante é provavelmente a palavra que melhor define o Festival Folclórico de Parintins. O que se passa na arena, batizada de Bumbódromo, é muito mais que um evento bem produzido. É a raça, a garra, a paixão, a dedicação sem limites de cada parintinense na defesa do seu “boi”. Seja Caprichoso ou Garantido! Têm “sangue nos olhos”, como por lá se diz.

Foi isso que senti em Parintins, terra dos índios guerreiros Tupinambás. É verdadeiramente arrepiante!

Vou tentar colocar em palavras toda a emoção que se vive em Parintins por ocasião do festival folclórico. E aproveito para fornecer dicas úteis a quem queira organizar uma viagem a Parintins para participar no festival. Vamos a isso.

O Festival de Parintins é levado muito a sério e, para um forasteiro, não é fácil compreender os pormenores, a terminologia, enfim, tudo o que se passa no evento. O que escrevo sobre Parintins tem por base a minha observação in loco, e a última coisa que pretendo é ofender, ainda que inconscientemente, a história do Festival Folclórico de Parintins, do Boi Garantido ou do Boi Caprichoso. Peço antecipadamente desculpa por qualquer incorreção que o texto possa conter.

A minha primeira vez no Festival Folclórico de Parintins

Brena Dianná, Rainha do Folclore
Brena Dianná, a extraordinária Rainha do Folclore do Boi Caprichoso, desfilando no Bumbódromo de Parintins

Nos dias anteriores ao festival, tive oportunidade de ver a cidade encher-se, aos poucos, de forasteiros vestidos de azul ou de vermelho; de espreitar a Festa dos Visitantes; e de acompanhar os últimos preparativos dos carros alegóricos de ambos os bois. E aquilo que vi foi impressionante.

Parintins é arte e cor e ritmo. É entrega e raça e paixão. Parintins não é Carnaval; é uma “Ópera na Floresta”, como alguém escreveu um dia. Parintins é uma homenagem à Mãe-Terra, à floresta, às tradições dos povos indígenas da Amazónia. É mágico e lindo e único. E é uma experiência inesquecível. Seja o seu coração vermelho ou azul.

Sim, não é possível ser-se neutro em Parintins. Seja Garantido ou Caprichoso, é imperioso escolher (e defender) um boi. Sentir-se azul ou vermelho. Apenas um deles. Porque ninguém é Caprichoso e Garantido ao mesmo tempo!

Eu cheguei a Parintins sem boi escolhido mas, por algum motivo, estava convicto que o meu boi era o Caprichoso. Não sei bem porquê. Mas tive a certeza quando a “Nação Azul e Branca” entrou no Bumbódromo, na primeira noite do Festival de Parintins. Foi quando me emocionei pela primeira vez na arena onde decorre o festival. Já lá vamos…

O espetáculo no Bumbódromo

Torcedora do Boi Garantido
Uma torcedora do Boi Garantido nas bancadas do Bumbódromo de Parintins

Sexta-feira, 30 de junho de 2017. Às 21:30 em ponto – nem mais um segundo! -, depois de 15 minutos a aquecer a Galera, o apresentador anunciou o início do espetáculo. E o Boi Caprichoso deu entrada no Bumbódromo de Parintins.

A Galera entoou cânticos, pulou, seguiu as “ordens” dos animadores de serviço. E eu senti o coração em brasa. Foi uma entrada épica, para um visitante em estreia que não sabia bem o que iria encontrar no Festival de Parintins. Ao som ritmado das percussões, vieram-me as lágrimas aos olhos. E aí soube que era azul e branco.

Guia do Festival de Parintins: Marujada do Boi Caprichoso
Maestro da Marujada, o grupo de músicos que sustenta o ritmo durante toda a apresentação do Boi-Bumbá Caprichoso

É disso que vive Parintins: paixão! Mais do que os gigantescos e elaborados carros alegóricos (ou alegorias, na terminologia do Boi-Bumbá), mais do que a magnitude do evento, o que verdadeiramente me impressionou foi a dedicação, a garra e a paixão colocadas pelos parintinenses na defesa do seu boi. Senti isso desde o primeiro instante do festival. E é indescritível…

Tendo acesso ao fosso destinado à imprensa no Bumbódromo, por gentileza da organização, estava colado à arena, ao nível do solo; e pude por isso observar tudo bem de perto.

Podia movimentar-me para o lado dos apoiantes do Garantido, depois do Caprichoso; estar atento aos pormenores da indumentária; procurar os melhores ângulos para fotografar. Uma liberdade que me permitiu fotografar sem parar. Por outro lado, não tinha a visão global que os camarotes permitem, nem fiquei rodeado pela animação da Galera nas arquibancadas.

No entanto, estando empenhado nesta missão de escrever sobre o Festival Folclórico de Parintins, considero que foi preferível estar o mais perto possível da ação. Atento aos pormenores da indumentária, às expressões dos intervenientes e a tudo o que me rodeava, surpreendi-me muitas vezes.

Danny Tapajós, Porta-Estandarte do Boi Garantido
Danny Tapajós, a Porta-Estandarte do Boi Garantido dando show no Bumbódromo na primeira noite do festival (o boi vermelho utilizou uma Porta-Estandarte diferente em cada noite)

Itens individuais do Festival de Parintins

Surpreendi-me, desde logo, com o incrível trabalho de cada Apresentador, figura com uma enorme responsabilidade na condução das duas horas e meia de duração de cada espetáculo.

Mas fiquei também fascinado, por exemplo, com Daniela Tapajós, a Porta-Estandarte do Boi Garantido. No meu caderno de apontamentos, escrevi uma palavra apenas: “Top”. Foi a propósito de Daniela que ouvi, pela primeira vez, a expressão “sangue nos olhos”. Como exemplo de garra e dedicação.

Nas noites seguintes, Daniela acabaria substituída na função de Porta-Estadarte, por se “ter sentido mal”. E a “Nação Vermelha e Branca”, aos meus olhos, ficou a perder.

Do lado azul, David Assayag, Levantador de Toadas do Caprichoso, esteve simplesmente fantástico. Tal como Sebastião Júnior, o jovem e irreverente Levantador de Toadas contrário. Mas Assayag é uma figura carismática, com voz poderosa e grande presença. Por ser cego, anda na arena sempre acompanhado, mão na mão, por uma índia de tirar o fôlego.

Marciele Albuquerque, Cunhã-Poranga Caprichoso
A energia contagiante de Marciele Albuquerque, Cunhã-Poranga da nação azul e branca

Beleza, aliás, é coisa que não falta na mulher amazonense. Pele morena, cabelos lisos, compridos e pretos, pernas torneadas e muita atitude. A Cunhã-Poranga encarna tudo isso. Representa a mulher mais bonita da tribo, mas não só: “é guerreira e guardiã, expressa a força através da beleza”.

Neste quesito, ambos os bois estavam incrivelmente bem servidos. Marciele Albuquerque (Caprichoso) e Rayssa Bandeira (Garantido) encarnaram a personagem de forma magistral, misturando beleza e sensualidade com garra e querer. Devo confessar que gostei de ambas, embora tenha sido arrebatado pelas irrepreensíveis performances de Marciele em nome da “Nação Azul e Branca”. Os jurados também lhe deram a vitória.

Rayssa Bandeira, Cunhã-Poranga do Boi Garantido
A bela Rayssa Bandeira, Cunhã-Poranga do Boi Garantido, na segunda noite do Festival de Parintins 2017

Para mim, no entanto, leigo em questões dos Bois-Bumbá, um dos maiores destaques do Festival de Parintins 2017 deu pelo nome de Brena Dianná. Trata-se da Rainha do Folclore do Boi Caprichoso, um item que “representa a diversidade de valores expressados pela manifestação popular”.

Para um forasteiro, nem sempre é fácil distinguir o papel da Rainha do Folclore do da Cunhã-Poranga mas, definições teóricas à parte, Brena representa o que de melhor vi em Parintins: paixão, dedicação, garra, beleza e atitude. Pelo menos nesta edição do festival, Isabelle Nogueira, a Rainha do Folclore do Garantido, não teve qualquer hipótese.

Itens femininos do Boi Caprichoso
As belas Marciele Albuquerque, Brena Dianná e Marcela Marialva (também conhecida por “Furacão Azul”), respetivamente a Cunhã-Poranga, a Rainha do Folclore e a Porta-Estandarte do Boi Caprichoso, agradecendo ao público no final da atuação do primeiro dia do festival

Outro dos destaques foi porventura Marcela Marialva, que se estreava como Porta-Estandarte do Boi Caprichoso. Pela sua entrega e atitude, ganhou desde logo a alcunha de “Furacão Azul” entre os apoiantes do boi azul.

E, apesar da menor experiência, apesar de um enorme susto na segunda noite (caiu ao sair da alegoria, naquele que podia ter sido um acidente muito grave), acabou por dar um show maravilhoso e vencer as arquirrivais em todas as noites. “Ela é linda; ela vale por três”, gritava o Apresentador do Caprichoso na última aparição de Marcela no Bumbódromo, em jeito de provocação ao boi contrário.

André Nascimento, pajé do Boi Garantido
André Nascimento, o quase invencível Pajé do Boi Garantido

A maior de todas as surpresas, porém, estava reservada para a luta entre o Pajé de cada boi, figura maior do auto do boi e um dos destaques do festival!

“O Pajé é um item importante na regionalização da festa. Aqui nas representações do auto do boi, mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi preferido do patrão, forçando o seu marido, o Pai Francisco, a matar o boi e arrancar a língua para satisfazer os desejos da grávida. Ao fim o boi é ressuscitado pelo curandeiro local, com poderes sobrenaturais, o poderoso Pajé.

O Pajé interpreta em sua apresentação o feiticeiro, o curandeiro, o mago das transmutações, fascinando pelos cantos, pelas rezas, danças e rituais. Com o poder mágico das ervas, repete o gesto de invocar os espíritos sagrados pedindo proteção aos ancestrais para expulsar o ser maléfico.

Após anos de evolução da festa, o Pajé ganhou importância no enredo do espetáculo, migrando em definitivo para a parte tribal da festa, encenando os ritos e lendas indígenas. Sendo a aparição desse item um dos momentos mais aguardados de cada noite.”, in Wikipedia

O ritual do Pajé é sempre um dos momentos mais aguardados da noite e André Nascimento, o Pajé do Boi Garantido, é, ele próprio, desde há muitos anos, uma das grandes atrações do Festival de Parintins. Ricardo Freire, popular blogger de viagens brasileiro, escreveu um dia que “quando ele está na arena, vira na hora o ponto focal”. E é verdade.

Só que Netto Simões, Pajé do boi contrário, esteve absolutamente irrepreensível, com indumentárias riquíssimas, entrega total e muito carisma. Tão bom que obteve nota máxima dos jurados em todas as noites. Assisti, portanto, à primeira derrota de André Nascimento em quase 20 anos como Pajé do Garantido. Um momento histórico na rivalidade entre os dois bois.

O Amo do Boi, por fim, tinha por missão fazer improvisos em verso, exaltando o seu boi e provocando o contrário. Uma espécie de cantares ao desafio, versão amazónica. Prince, o Amo do Boi Caprichoso que tinha conhecido meses antes num evento em Lisboa, esteve francamente melhor que o seu rival. Resultado: nota máxima em todas as noites e um contributo importante para o resultado final do Festival de Parintins.

Itens coletivos

Tribos Indígenas Boi Caprichoso
Uma das evoluções que levou o Boi Caprichoso ao título de campeão em 2017; no caso, as Tribos Indígenas

Entre os itens coletivos a concurso no Festival de Parintins, o que mais me chamou a atenção foi o das Tribos Indígenas da Amazónia. É uma parte do espetáculo recheada de musicalidade e coreografias tribais, interpretadas por muitas dezenas de jovens, alegre e visualmente muito rica. As indumentárias dos dançarinos pareciam recriar as tradições étnicas de uma tribo.

Para mim, foram quase sempre pontos altos das apresentações a que assisti no Bumbódromo de Parintins.

O veredito

Primeira Noite: As apresentações foram equilibradas, mas, na altura, fiquei com a sensação de que o Boi Caprichoso ganhou claramente a primeira noite, até porque a Galera do Garantido, tida como a mais vibrante entre as duas, parecia adormecida, sem a garra que a caracteriza. Pela negativa, pareceu-me apenas que o Caprichoso fez uma má escolha na iluminação; havia alturas em que a arena estava completamente escura sem justificação, e era difícil seguir o que estava a acontecer na apresentação da “Nação Azul e Branca”.

Segunda Noite: A segunda noite foi bem diferente. Apesar da notória grandiosidade das alegorias do Boi Caprichoso, no sábado, o Garantido ganhou na raça. A Galera do boi vermelho recuperou da apatia da véspera, e mobilizou os brincantes para um espetáculo memorável. Do lado azul, várias coisas correram menos bem; como quando Marcela Marialva, a Porta-Estandarte do Caprichoso, pregou um susto a toda a gente ao cair da alegoria.

Terceira Noite: Quanto à terceira e última noite, acabou a superar todas as expectativas. Se eu pensava não poder ser mais surpreendido, enganei-me redondamente. Ambas as agremiações guardaram os principais trunfos para a noite de domingo. Alegorias espetaculares, profissionalismo dos integrantes, coreografias bem conseguidas, um delírio cromático, um festival de criatividade. Nessa noite, apesar de me ter emocionado com a Galera do Garantido – que garra, que boa energia! – o Boi Caprichoso foi de longe o melhor. Ao ponto de ter obtido nota máxima em 18 dos 21 itens em avaliação.

Boi de pano nas bancadas do Bumbódromo
Quando o “touro branco” passa nas bancadas, a emoção é notória entre os apoiantes do Boi Garantido

Na segunda-feira à tarde soube do resultado: o Boi Caprichoso era o Campeão do Festival de Parintins 2017.

Estava no barco que me iria levar de regresso a Manaus e, rio acima, fui pensando no quão pouco Parintins é conhecido além-fronteiras. Até mesmo dentro do Brasil! Quantas vezes, já em São Paulo, mencionei a incrível experiência que havia vivido em Parintins para total espanto do meu interlocutor? Saiba, pois, que o Festival de Parintins merece toda a atenção dos viajantes, dos amantes da cultura popular e das tradições indígenas.

Eu sei que vou voltar, um dia, mas sem a “obrigação” de relatar o que quer que seja. Apenas para viver. Para me emocionar. Para me deixar embalar pela Batucada e pela Marujada. Para voltar a ver de perto a beleza de Rayssa, a raça de Marcela, a entrega de Brena, a elegância de Valentina e o carisma de André. Para voltar a ouvir David e Sebastião.

Para voltar a sentir, enfim, a energia mágica da ilha Tupinambarana.

Até sempre, Parintins!

Vídeos do Festival de Parintins 2017 (TV A Crítica)

https://www.youtube.com/watch?v=fUm0BAPqxeA

Guia do Festival de Parintins
(para entender o que se passa no Bumbódromo)

Terminologia usada no festival

Boi Caprichoso: Associação Cultural Boi-Bumbá Caprichoso, representada pela cor azul e cujo símbolo é uma estrela; é uma das duas agremiações de Boi-Bumbá rivais que competem anualmente no Festival Folclórico de Parintins. O Caprichoso costuma estar associado às elites da cidade. No Bumbódromo, o boi do Caprichoso é de pano preto [veja as fotos do Boi Caprichoso].

Boi Garantido: Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, representada pela cor vermelha e cujo símbolo é um coração; é a outra agremiação rival. O Garantido é o boi mais popular, frequentemente chamado de “Boi do Povão”. No Bumbódromo, o boi do Garantido é de pano branco [veja as fotos do Boi Garantido].

Contrário: Denominação dada ao boi adversário. O simpatizante de um determinado boi nunca pronuncia o nome do boi adversário, tratando-o sempre como “o contrário”.

Bumbódromo: Espécie de arena circular onde as agremiações dos bois Caprichoso e Garantido se apresentam durante o Festival Folclórico de Parintins. Foi inaugurado em 1988 e tem capacidade para 35 mil pessoas.

Toadas: Músicas cantadas durante as apresentações no Bumbódromo, quase sempre de cariz popular regional.

Batucada: Nome dado ao grupo de quase 400 músicos, maioritariamente percussionistas, que mantêm o ritmo ao longo das apresentações do Boi Garantido.

Marujada: idem, mas relativo ao Boi Caprichoso.

Galera: Nome dado à claque (ou torcida) de cada um dos bois, a Galera é parte integrante das apresentações no Bumbódromo e é avaliada pela sua animação e empenho. Ao invés, são proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra manifestação de uma Galera quando o contrário se apresenta (deve permanecer em silêncio absoluto).

Itens avaliados pelo júri no Bumbódromo

Em cada uma das três noites do Festival Folclórico de Parintins, cada boi desenvolve um sub-tema do tema previamente apresentado (antes do festival começar) a um júri independente. O tema escolhido pelo Boi Garantido foi Magia e Fascínio no Coração da Amazónia; ao passo que o espetáculo do Boi Caprichoso foi montado em torno do tema A Poética do Imaginário Caboclo.

Já no Bumbódromo, os jurados avaliam 21 itens – individuais e coletivos – durante a apresentação de cada boi; e é o somatório da pontuação de todos os itens, nas três noites, que dita o campeão desse ano. Para não haver dúvidas sobre a sua imparcialidade, os jurados anotam as pontuações usando canetas verdes (e não azuis ou vermelhas).

Eis a definição dos itens em avaliação, de acordo com o regulamento do Festival de Parintins.

01. Apresentador: “Anfitrião, Mestre de Cerimónia, Porta-voz.”

02. Levantador de Toadas: “A sua voz é o fio condutor para o desenvolvimento do tema.”

03. Batucada ou Marujada: “Sustentação rítmica, base para o espetáculo, grupo de percussão que fornece um referencial rítmico indispensável às toadas.”

04. Ritual Indígena: “Recriação de rito xamanístico, fundamentada através de pesquisa, dentro do contexto folclórico do Boi-Bumbá.”

05. Porta-Estandarte: “Símbolo do Boi em movimento.”

06. Amo do Boi: “O dono da fazenda, menestrel que tira versos dentro dos fundamentos do espetáculo.”

07. Sinhazinha da Fazenda: “Filha do dono da fazenda, no auto do Boi-Bumbá de Parintins.”

08. Rainha do Folclore: “Item que representa a diversidade de valores expressados pela manifestação popular.”

09. Cunhã-Poranga: “Moça bonita, guerreira e guardiã, expressa a força através da beleza.”

10. Boi-Bumbá (Evolução): “Símbolo da manifestação popular, motivo e razão de ser do Festival Folclórico de Parintins.”

11. Toada (Letra e Música): “Suporte lítero-musical do festival, elo entre a individualidade e o grupo.”

12. Pajé: “Curandeiro, hierofante, xamã, sacerdote, ponto de equilíbrio das tribos.”

13. Tribos Indígenas: “Grupos étnicos que compõem os povos indígenas do Brasil, dentro do contexto folclórico do Boi-Bumbá de Parintins.”

14. Tuxaua: “Chefe da tribo, o personagem caboclo em sua miscigenação, representação alegórica do universo indígena e caboclo da Amazónia.”

15. Figura Típica Regional: “Símbolo da cultura amazónica, na sua soma de valores a partir dos elementos que compuseram a sua miscigenação.”

16. Alegorias: “Estruturas artísticas que funcionam como suporte cenográfico para apresentação.”

17. Lenda Amazónica: “Ficção que ilustra a cultura dos povos da Amazónia dentro do contexto folclórico do Boi-Bumbá de Parintins.”

18. Vaqueirada: “Agrupamento coletivo, guardiões do boi em evolução.”

19. Galera: “Elemento de apoio do espetáculo, estímulo de apresentação, massa humana que forma uma das maiores coreografias uníssonas do mundo.”

20. Coreografia: “Todos os movimentos de dança apresentados durante o espetáculo.”

21. Organização do Conjunto Folclórico: “Reunião de itens individuais, artísticos e coletivos embasados no conteúdo do espetáculo e, por sua vez, dispostos organizadamente na arena de apresentação.”

De referir que, ao longo do show, o apresentador vai indicando que itens estão em avaliação em cada momento do espetáculo (o que facilita a vida aos espectadores).

Guia prático

Como chegar a Parintins

Antes de mais, voei de Portugal para Belém do Pará com a TAP; e da capital paraense para Manaus com a Azul. A partir daí, há duas formas para chegar a Parintins: de avião ou de barco.

No meu caso, viajei de barco entre Manaus e Parintins e, apesar de demorar muito tempo, julgo que é a melhor forma de fazer esta viagem; pelo menos para quem vai assistir ao Festival de Parintins pela primeira vez. No texto Uma viagem de barco no Amazonas (de Manaus a Parintins a dormir numa rede) explico como organizar a viagem de barco.

Quanto ao avião, tem a grande vantagem de demorar apenas uma hora desde Manaus. O problema do avião é que as tarifas dos voos Manaus – Parintins em época de festival sobem para valores obscenos, razão pela qual vou-me abster de sugerir esta opção.

Note, ainda assim, que é possível voar para Parintins a preços mais aceitáveis; basta, para isso, chegar três ou quatro dias antes do festival começar; e, no final, esperar mais três ou quatro dias para regressar.

Pesquisar voos para Parintins

Pacotes para o Festival de Parintins

A forma mais prática de assistir ao Festival Folclórico de Parintins é comprando um pacote que inclui o transporte desde Manaus (de barco ou de avião), alojamento em pousada ou no próprio barco e, eventualmente, os bilhetes para as três noites do festival.

Durante muitos anos, a agência Tucunaré Turismo esteve associada à organização do Festival Folclórico de Parintins e era ela que vendia os pacotes de viagem; mas desde 2016 que o festival já não está nas suas mãos. Pode comprar pacotes para o Festival de Parintins em agências brasileiras como a Amazon Destinations Tours.

Note que os pacotes para uma determinada edição costumam ficar disponíveis no mês de dezembro anterior – mas pode ser antes. Infelizmente, é uma opção demasiado cara para muitos viajantes independentes; caso seja esta a sua escolha, recomendo que compre com a maior antecedência possível.

Onde ficar em Parintins (pousada, casa ou barco)

Para o viajante independente, arranjar alojamento em Parintins é a maior dificuldade. Isto porque boa parte das pousadas está bloqueada por operadores turísticos por altura do Festival de Parintins; e também porque há pouquíssimas pousadas listadas no booking ou com site próprio. Entre elas, encontra a excelente Pousada Muiraquitã pronta a reservar (com antecedência!).

Seja como for, eis alguns contactos de pousadas de Parintins (não se admire se estiverem totalmente reservadas por agências):

NomeMoradaEmailTelefone
Amazon River Resort HotelLagoa da Francesa, 697amriverhotel@gmail.com+55 (92) 3533-6330
Hotel BritoAvenida Amazonas, 2638hotelbrito@bol.com.br+55 (92) 3533-1897
Hotel PérolaRua Cordovil, 354gilmarpontes@hotmail.com+55 (92) 3533-1356
Hotel VilasboasRua Gomes de Castro, 675pousadasvilasboas@hotmail.com+55 (92) 3533-3327
Pousada da IlhaTravessa Rio Branco, 395fatima.macedo673@gmail.com+55 (92) 3533-2915
Pousada do ValeRua Cordovil, 790sagiladovale@gmail.com+55 (92) 3533-2414
Pousada Garça MorenaRua Cordovil, 330advsandrosantos@hotmail.com+55 (92) 3533-1334
Pousada ParaíbaAvenida Paraíba, 2962joaque@bol.com.br+55 (92) 99152-9495
Pousada ParaísoAvenida Amazonas, 2273luizatavares49@hotmail.com+55 (92) 3533-1355
Pousada TapuiaRua Souza Filho, 95rosario-inclusao@hotmail.com+55 (92) 99185-7841

Dados fornecidos pela Sectur – Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Parintins

Para além destas, e assumindo que não viaja com uma agência, há duas alternativas para dormir em terra firme: procurar em grupos de Facebook que por vezes surgem para o efeito; ou contactar pessoas de Parintins que podem ajudar na busca de uma pousada (ou de uma casa ou quarto para alugar). É o caso de Maria Rosa.

Fiquei alojado na casa da Maria Rosa em Parintins, e só tenho elogios para a simpatia e hospitalidade. Ela autorizou-me a publicar o seu contacto (+55 92 99108-6820) e disponibilizou-se para ajudar quem precise de encontrar alojamento em Parintins. Ligue-lhe ou, melhor ainda, envie uma mensagem via WhatsApp (é menos intrusivo).

Quem também pode ajudar com o aluguer de casa em Parintins durante o festival é Inaldo Albuquerque (+55 92 99205-5066), responsável pelo Departamento de Eventos do Município de Parintins.

Outra hipótese seria dormir no próprio barco que o leva até Parintins. É uma opção muito usada pelos turistas brasileiros do Amazonas e Pará.

Pesquisar pousadas em Parintins

Como assistir ao festival

Datas das próximas edições

Antes de mais, convém anotar as datas do Festival de Parintins. Desde 2005, o Festival Folclórico de Parintins acontece no último fim de semana de junho, sendo que as próximas edições têm lugar nas seguintes datas:

  • 2024: 28, 29 e 30 de junho
  • 2025: 27, 28 e 29 de junho
  • 2026: 26, 27 e 28 de junho

Quando ir para Parintins

Eu sugiro que chegue a Parintins, no máximo, na quarta-feira antes do festival. Dessa forma, terá oportunidade de se ambientar e de participar numa (ou em várias) das animadas festas de receção aos visitantes.

No regresso, não cometa o erro de deixar Parintins na madrugada de segunda-feira. Foi o que eu fiz, por imperativos de agenda, e arrependi-me. É que, na segunda-feira, as ruas de Parintins são tomadas pelos torcedores do boi vencedor e, à noite, há festas em ambos os currais. Diz quem conhece que valem bem a pena. Ou seja, deixe o regresso para terça-feira a seguir ao festival.

Como comprar os ingressos para o Bumbódromo

Quer viaje com uma agência ou de forma independente, o ideal é ter os bilhetes comprados com antecedência. Pode fazê-lo no site oficial do festival.

Não é opção que recomende mas, se por algum motivo não conseguir comprar os bilhetes, não desespere: há sempre ingressos à venda no mercado negro junto ao Bumbódromo. É uma opção que julgo ser ilegal mas, na verdade, tudo é feito de forma perfeitamente visível e explícita (seguramente que as autoridades fecham os olhos durante os dias da festa). Prova disso é o facto de, durante o dia, em locais concorridos como a praça da igreja, se verem homens com cartazes anunciando a compra e venda de ingressos (são os chamados cambistas).

Se optar por esta solução de recurso, prepare-se para pagar mais do que o preço normal do bilhete.

Note que pode comprar bilhetes para uma, duas ou três noites; eu recomendo vivamente que assista a todas as noites, a não ser que queira poupar dinheiro. Se for este o caso, considere assistir ao festival na Galera uma das noites.

Como assistir ao Festival de Parintins de forma gratuita (na Galera)

Se quiser viver a experiência mais radical e assistir ao Festival de Parintins de forma gratuita, saiba que pode ficar nas bancadas laterais junto com os apoiantes populares dos bois – a Galera de um dos bois.

Para isso, terá de ficar na fila desde muito cedo. Há quem vá para a fila às seis ou sete da manhã (ou até antes) para assistir ao espetáculo que acontece a partir das 21:30 (na sexta-feira) ou 20:00 (no sábado e domingo). Esteja um sol escaldante ou uma chuva tropical.

Note ainda que deverá ir vestido da cor do seu boi e seguir as regras da Galera: participar nas coreografias durante o show do seu boi; e manter-se em silêncio durante a apresentação do contrário. Caso falhe, arrisca-se a ter problemas sérios com os outros apoiantes e a fazer o seu boi perder pontos (relembro que a Galera é um dos 21 itens avaliados pelo júri).

A não ser por extrema necessidade de poupar dinheiro (ou uma vontade férrea de experimentar o lado mais popular do festival), eu não recomendo esta opção. Vai passar todo o tempo na fila, não vai aproveitar os dias em Parintins e vai chegar ao final do festival completamente morto.

E que tal ver o festival na televisão?

O Festival de Parintins é transmitido pela televisão para o Estado do Amazonas e, eventualmente, por algumas cadeias de alcance nacional (em território brasileiro). Ora, como as imagens televisivas são também transmitidas nos écrans colocados no interior do Bumbódromo, vi o festival no recinto em simultâneo com a transmissão televisiva e pude, por isso, comparar.

O veredito? Posso garantir que a televisão não está à altura do evento. Os planos demasiado fechados aumentam a sensação de isolamento dos intervenientes (muitas vezes parece que a arena está despida) e a emoção é reduzida.

Ou seja, se quer mesmo participar no Festival Folclórico de Parintins só há uma forma: dentro do Bumbódromo! Dito isto, veja os vídeos publicados acima e já fica com uma ideia do que se passa na arena.

Seguro de viagem

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Filipe Morato Gomes
Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

4 comentários em “Festival de Parintins, uma arrepiante Ópera na Floresta”

  1. Olá Filipe,
    Quero deixar o meu agradecimento pela excelente cobertura, informações, vídeos e dicas sobre o Festival de Parintins;
    Realmente é um espetáculo de grandeza maior. Seguramente estará no meu calendário de viagens no próximo ano, principalmente orientado pela sua experiência lá vivida.

    Forte abraço,
    Stanislaw – Marilia – SP/BR

    Responder
  2. Epá, parece mesmo ter sido uma experiência marcante! Adorei a expressão “ópera na floresta!”

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  3. FABULOSO!
    O seu blogue é mesmo fabuloso! Vim parar a ele “por acaso”e caí logo neste post!
    Ainda estou arrepiada, não apenas pelo festival que deve ser como o adjectiva, mas pelo seu trabalho.
    Bem – haja.

    Responder
  4. Realmente é uma festa linda. Muito bem organizada pelas duas agremiações. Estava em 1989 na primeira noite. E o Espirito Santo falou comigo.”O que fazes aqui, esse aqui não é o teu lugar, sai daqui agora.” Deus tens os seus como escolhidos para uma grande obra.

    Responder

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