
O nome oficial é Omoide Yokocho (Memory Lane), mas a rua é mais conhecida pela sua pouco elogiosa alcunha: Piss Alley. Nada animador, portanto.
Acontece que se trata de uma rua recheada de minúsculos restaurantes locais e com um ambiente tradicional, mas que aparenta ser meio underground; uma espécie de submundo alternativo; ou o que resta da velha Tóquio no meio dos arranha-céus de Shinjuku. Por tudo isso, quando estava a planear a viagem ao Japão e descobri a existência do Piss Alley, decidi nesse mesmo instante que tinha de lá ir durante a minha estadia em Tóquio.
E assim fiz.
Certo dia, depois de explorar o bairro Shimokitazawa, fui mesmo jantar ao Piss Alley. Apanhei o metro até Shinjuku, uma das mais movimentadas estações de metro de Tóquio e, de repente, por entre o brilho dos neons de Shinjuku, cheguei a uma pequena rua iluminada por lanternas vermelhas e restaurantes porta-sim-porta-sim de ambos os lados. Era a imagem que tinha na cabeça do Piss Alley. Ou Omoide Yokocho. Não importa.
Percorri a ruela de ponta a ponta, absorvendo o ambiente e tentando escolher um restaurante para jantar. A maioria não tinha mais do que meia dúzia de lugares sentados em torno de um balcão de madeira, e muitos deles estavam lotados com homens japoneses. A fazer o quê? A comer yakitori, naturalmente.
Yakitori, as espetadas japonesas
As yakitori são pequenas espetadas de galinha grelhadas na hora, tradicionalmente em fogareiros a carvão. São servidas em estabelecimentos muito simples chamados yakitori-ya (semelhantes aos tascos portugueses), muito frequentados pelos assalariados japoneses para um jantar rápido e barato no final de um dia de trabalho; e também nos izakayas, pequenos bares muito populares para uma bebida e petisco ao início da noite. No Piss Alley, quase só havia yakitori-ya. Faltava apenas escolher um.
Depois de duas voltas à rua, acabei por optar por um restaurante meio à sorte, mais pelo facto de haver lugares disponíveis do que por qualquer outra razão. Não me pareceu melhor nem pior do que os seus vizinhos, mas tinha bancos vazios e isso fez-me sentar. Má escolha, haveria de concluir depois.
As espetadas estavam já preparadas, dispostas em círculo dentro de um grande tabuleiro redondo colocado em cima do balcão, tornando a escolha fácil para quem não domine a língua japonesa.
Pedi vários yakitori de galinha, incluindo alguns com as miudezas da ave, e ainda outras espetadas variadas com cogumelos e pimentos. As yakitori foram sendo grelhadas à minha frente num fogareiro a gás (não a carvão). Tudo acompanhado por uma belíssima cerveja japonesa chamada Kirin.
Tal como o okonomyaki de Hiroshima ou os ramen que comi em Tóquio, provar yakitori no Piss Alley era daquelas experiências gastronómicas que tinha mesmo de concretizar. E valeu a pena. Gosto desta Tóquio mais tradicional e popular, longe do brilho incandescente dos neons nas grandes avenidas. Pena ter ficado com a nítida sensação de que paguei mais do que o preço justo. Eu explico.
No restaurante onde jantei, o custo de cada yakitori estava fixado em 150¥. Na altura, quando fiz o pedido, confesso que nem reparei nisso; estava convencido de que iria ser um jantar barato e nem liguei. Mas a verdade é que fui surpreendido na hora de pagar a conta. No total paguei 3.900¥ por 16 yakitori e uma cerveja de meio litro (duas pessoas). Um roubo. Ninguém me tira da cabeça a ideia de que fui enganado por ser turista.
Mas a verdade é que a culpa foi minha, por não feito o básico: ver o menu (ou perguntar os preços) antes de fazer o pedido. Ainda assim, o facto de ter pago demasiado não apaga a fantástica experiência de comer yakitori no Piss Alley de Tóquio.
Adorei.
Repetiria tudo outra vez.
Só escolheria melhor o restaurante!
Nota: os preços referidos são de 2016.
Guia prático
Onde comer yakitori no Piss Alley
A pergunta não tem resposta linear. Eu sugiro que percorra a rua de ponta a ponta, tal como eu fiz, mas escolha o restaurante de outra forma. Se estiver com tempo, opte por um que lhe cause boa impressão e esteja cheio de japoneses… e espere pela sua vez.
Talvez a comunicação seja mais difícil, mas é muito provável que a qualidade seja igual ou superior e acabe por pagar menos do que eu pelo jantar (há vários restaurantes com pratos combinados com cinco yakitori a ¥500 ou ¥600).
Nota: a rua tem site oficial, com mapa e nome dos restaurantes.
Tour gastronómico
Caso tenha interesse em aprofundar conhecimentos sobre a gastronomia japonesa na companhia de um guia local, veja este Tour de comida de rua japonesa. Decorre em Shibuya, Tóquio, a dois passos do Piss Alley.
Alternativamente, considere fazer esta excelente Shinjuku: Golden Gai Food Tour. Durante o tour, visitará alguns izakaya e provará vários tipos de sushi e yakitori em Omoide Yokocho (Memory Lane), bem como uma tigela de ramen e um par de bebidas em Golden Gay.
Onde dormir em Tóquio
Eu gostei muito da zona de Omotesando e julgo que é uma excelente base para visitar Tóquio mas, para perceber melhor a cidade, recomendo a leitura do post sobre os melhores bairros para dormir em Tóquio.
No caso de preferir ficar alojado em Shinjuku, sugiro que veja o hotel Tokyu Stay Shinjuku (localização perfeita, perto do metro) e o Capsule Hotel Anshin Oyado Shinjuku (económico). Se o que procura é luxo, o Park Hyatt Tokyo (onde foi filmado o filme Lost in Translation) é uma escolha quase imbatível. Para outras alternativas, pesquise diretamente no botão abaixo.
Seguro de viagem para o Japão
Os cuidados de saúde no Japão são extremamente caros, pelo que é fundamental ter um seguro de viagem com boas coberturas para diminuir o prejuízo em caso de doença ou uma eventual hospitalização.
Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens. Tem cobertura para COVID-19, não tem limite de idade nem franquias, cobre até 1.000.000€ (um milhão) em gastos médicos e não é preciso adiantar dinheiro em consultas ou hospitalização. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos do mercado, ideais para viajar no Japão.