
A arquitetura tradicional das casas da região alpina de Shirakawa-go sempre me fascinou. Não só por fazer parte da lista de locais classificados como Património Mundial no Japão mas também, e principalmente, pela peculiaridade e sentido estético do estilo gassho-zukuri.
Aldeias históricas de Shirakawa-go e Gokayama
“Localizadas numa região montanhosa separada do resto do mundo durante um longo período de tempo, as aldeias históricas das regiões de Shirakawa-go e de Gokayama, com suas casas de estilo gassho-zukuri, subsistiram através do cultivo de amoreiras e da criação de bichos-da-seda. As casas, grandes e com acentuados telhados de colmo, são exemplares únicos em todo o o Japão.
Apesar das dificuldades económicas, as aldeias de Ogimachi, Ainokura e Suganuma são exemplos extraordinários de um estilo de vida tradicional perfeitamente adaptado ao meio ambiente e às circunstâncias sociais e económicas das pessoas.” in UNESCO
Durante o planeamento da viagem ao Japão, pernoitar nas aldeias alpinas ficou fora de questão, por constrangimentos temporais. Ficar-me-ia por uma visita a Ogimachi, a principal e mais acessível aldeia da região de Shirakawa-go, a meio caminho entre as cidades de Takayama e Kanazawa. Mas tinha mesmo de visitar Shirakawa-go!
Manhã cedo, apanhei um autocarro na estação de camionagem de Takayama com destino a Ogimachi. Quando lá cheguei, sabia da existência de um minibus que leva os turistas até uma espécie de miradouro, a partir do qual se tem belas vistas sobre a aldeia. Uma centena de metros adiante, dei de caras com o minibus, praticamente cheio e pronto para partir. Aproveitei a coincidência e entrei.
A partir do miradouro, a vista era deslumbrante. A neve que tinha caído durante a noite acrescentava beleza e misticismo à aldeia, observada lá do topo. Ao fundo, já se avistavam as casas ao melhor estilo gassho-zukuri, algumas com mais de 250 anos de idade e principal razão da minha visita.
Gassho-zukuri significa, literalmente, “construído como mãos a rezar”, porque os telhados das casas fazem lembrar as duas mãos de um monge Budista, juntas, como numa oração. São construídos sem pregos e aprimorados ao longo de muitas gerações com uma função específica: suportar o peso da gigantesca quantidade de neve que cai na região durante o inverno.
Consta, aliás, que os habitantes se vão juntando ao longo do inverno para irem limpando os telhados uns dos outros. Caso contrário, não aguentariam o peso da neve. Quando visitei Shirakawa-go, havia algumas pinceladas de branco suficientes para embelezar a paisagem mas insuficientes para causar problemas. O inverno estava somente a começar!
Ainda assim, estava deliciado com a paisagem. Só me apetecia fotografar, fotografar.
Fui caminhando por Ogimachi, explorando os recantos da aldeia, não sem notar indícios de que, noutras épocas do ano, o turismo de massas deverá invadir Shirakawa-go (um exemplo: letreiros a solicitar aos visitantes que não ultrapassem determinados pontos).
Enquanto passeava por Ogimachi, uma das casas chamou-me a atenção sem aparente motivo. A porta estava aberta e decidi por isso espreitar: era um restaurante com um aspeto tradicional acolhedor. Gostei tanto que, pouco depois, mais cedo que o normal, estava sentado a almoçar; tudo muito simples, mas suficientemente delicioso para, no final da viagem, a considerar uma das melhores refeições que fiz no Japão.
Por esta altura do dia, já os telhados estavam praticamente sem neve. Caminhei mais um pouco pela aldeia, diriji-me de novo à rua principal e esperei pelo autocarro rumo a Kanazawa. Tinha valido a pena a paragem para visitar a região de Shirakawa-go. Ficou apenas a faltar uma dormida em Ainokura.
Mais fotos de Ogimachi (Shirakawa-go)
Guia para visitar Shirakawa-go
Como chegar a Shirakawa-go
Se o objetivo for a aldeia de Ogimachi, o ideal é seguir de autocarro de Takayama ou Kanazawa. Note que o sentido Takayama – Ogimachi – Kanazawa é muito mais concorrido, razão pela qual recomendo que, na época alta, compre os bilhetes com antecedência. Há várias partidas por dia em ambos os sentidos; o seu hotel poderá informar dos horários atualizados.
Se, como eu, estiver em trânsito entre Takayama e Kanazawa (ou vice-versa) e não pernoitar em Ogimachi, pode deixar a bagagem nos cacifos disponíveis no pequeno terminal de camionagem. Se estiverem todos cheios, peça ajuda no guichet de venda de bilhetes, que eles guardam lá dentro ao mesmo preço.
Onde ficar (Ogimachi ou Ainokura)
Parei em Ogimachi durante a viagem entre Takayama e Kanazawa, optando por não ficar a dormir nas aldeias preservadas de Shirakawa-go. As aldeias devem ser magníficas à noite, após todos os turistas terem ido embora.
Para absorver esse ambiente, muitos viajantes optam por ficar a dormir na aldeia de Ainokura, já na região de Gokayama, mais remota e recatada. Outra alternativa é a aldeia de Suganuma.
Se eu tivesse dormido numa dessas aldeias, muito provavelmente a minha escolha seria a pousada tradicional Minshuku Yyomoshirou. Veja as fotografias e reviews para perceber porquê. Eu tive pena de não o fazer.
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Onde comer
Só experimentei um restaurante, por completo acaso (ou intuição) e recomendo vivamente. Chama-se Ochudo e descobri à posteriori que aparece no topo das recomendações de sites como o Tripadvisor para Shirakawa-go.
Seguro de viagem para o Japão
Os cuidados de saúde no Japão são extremamente caros, pelo que é fundamental ter um seguro de viagem com boas coberturas para diminuir o prejuízo em caso de doença ou uma eventual hospitalização.
Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens. Tem cobertura para COVID-19, não tem limite de idade nem franquias, cobre até 1.000.000€ (um milhão) em gastos médicos e não é preciso adiantar dinheiro em consultas ou hospitalização. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos do mercado, ideais para viajar no Japão.