Destino: Ásia » Japão » Kanazawa

Kanazawa, uma cidade apetitosa

Por Filipe Morato Gomes
Mulheres de kimono em Kanazawa
Duas mulheres vestidas com os tradicionais kimono, à saída do Jardim Kenrokuen, em Kanazawa

Depois de ler uma blogger internacional que falava de Kanazawa como sendo o seu destino preferido no Japão, cheguei à cidade com elevadas expectativas. Até porque Kanazawa é tida como uma Meca gastronómica no Japão – e eu, já se sabe, acredito que a gastronomia é parte fundamental da viagem.

Acabei por passar duas noites em Kanazawa, hospedado no magnífico The Share Hotels Hatchi (fruto de uma daquelas promoções a metade do preço que às vezes encontro no booking). E não poderia ter ficado mais satisfeito. Com o alojamento; com a comida; com Kanazawa. A cidade tem um jardim afamado, um mercado de peixe que é uma perdição, cafés modernos e acolhedores, restaurantes do outro mundo e até museus muito, muito interessantes.

Para mim, Kanazawa tornou-se rapidamente num caso sério de paixão à primeira visita. Julgo até que será um bom local para viver, caso alguém esteja a pensar mudar-se para o Japão.

Partilho, pois, as coisas mais interessantes que fiz em Kanazawa.

O que fazer em Kanazawa (roteiro de um dia)

Depois de o testar no terreno, recomendo sem reservas este roteiro de um dia em Kanazawa (comigo resultou muito bem). Permite ver as principais atrações da cidade e ainda deliciar-se com um jantar memorável a preço médio. Com planeamento e sem correr demasiado, dá para encaixar tudo num dia quase perfeito.

Durante este dia em Kanazawa andei sempre a pé, exceto quando decidi aproveitar o facto de ter o Japan Rail Pass. Com o passe, usei gratuitamente os autocarros urbanos da empresa JR, que tem uma linha circular muito útil para chegar mais rapidamente ao Museu de Arte Contemporânea.

Mercado Omicho

O que fazer em Kanazawa: visitar Mercado Omicho
Banca no interior do Mercado Omicho, Kanazawa

Carinhosamente apelidado de “Cozinha de Kanazawa”, o Omicho está em funcionamento contínuo há mais de 300 anos e tem um papel central na cultura gastronómica da cidade. Pela minha parte, e apesar de ter visitado o famoso Mercado Tsukiji, em Tóquio, estou tentado a afirmar que o Mercado Omicho é o mais interessante mercado de peixe do Japão.

Ao contrário de Tsukiji, no interior do Mercado Omicho nunca senti que estava a incomodar; talvez por praticamente não haver turistas a visitar o mercado de Kanazawa. Dei várias voltas pelas suas ruelas interiores, sem rumo aparente, observando as bancas que vendiam inúmeras espécies de peixe e outros animais marinhos, e ainda vegetais, carnes e peixe seco. Tudo muito policromático e atrativo. Tudo muito fresco e apetitoso.

Sabia da relação da cidade com o mar; e da qualidade extraordinária do peixe que ali se consome. Há quem diga, até, que o melhor restaurante de sushi do Japão fica em Kanazawa (não fui comprovar por ser demasiado caro). O que eu não sabia é que os caranguejos são um pitéu típico e abundante em Kanazawa. Vi caranguejos gigantescos no mercado de Kanazawa, alguns dos quais a custarem mais de 100€ a unidade. Felizmente, é possível comer bem no Mercado Omicho sem gastar fortunas; e eu aproveitei.

Comer sushi e ostras no mercado

Ostras no Mercado Omicho, Kanazawa
Ostras à venda no Mercado Omicho, Kanazawa

Além de observar as bancas do Mercado Omicho, planeie um tempinho para se deliciar com as comidas. Sim, é possível comer sushi bom e barato; e ainda provar outras iguarias como ostras, ovas de ouriços-do-mar e caranguejos.

A visita ao Mercado Omicho tem muito mais interesse se se deixar levar pela gastronomia local e provar algumas das iguarias que se encontram disponíveis no mercado. Nem todas têm, digamos, bom aspeto, mas nada melhor do que um pouco de arrojo gastronómico numa cidade como Kanazawa. E, para sobremesa, o ideal é sair do mercado e visitar um café muito especial.

Café no Curio Espresso and Vintage Design

Curio Espresso and Vintage Design Kanazawa
Café Curio Espresso and Vintage Design

O café Curio Espresso and Vintage Design é um daqueles cafés incrivelmente acolhedores, onde apetece ficar, sem pressas nem horários, a saborear um cafe latte. É gerido por um casal muito simpático: ele, norte-americano natural de Seattle; ela, japonesa que viveu muitos anos em Seattle, onde se conheceram.

O Curio pode ser usado como paragem para descanso e café após a visita ao Mercado Omicho (foi o que fiz), ou como base para o pequeno-almoço. Tem também sanduíches, caso o sushi e as ostras no Mercado Omicho não o satisfaçam. Demore o tempo que quiser, porque está num dos melhores cafés que conheci no Japão. Próxima paragem? Museu de Arte Contemporânea de Kanazawa.

Museu de Arte Contemporânea

Museu de Arte Contemporânea de Kanazawa
Interior do Museu de Arte Contemporânea de Kanazawa

Para chegar ao Museu de Arte Contemporânea de Kanazawa, fiz uso do Japan Rail Pass e apanhei um autocarro da empresa JR a custo zero. Não que fosse extraordinariamente longe mas, com chuva e vento, teria sido um passeio muito desagradável.

Para além do edifício, de forma circular e vincado pelo revestimento a vidro e pelos tons brancos de tudo o resto, vi no museu – que também se chama Museu do Século 21 – exposições de arte contemporânea muito interessantes. A começar pela instalação retratada na foto acima; por uma exposição de peças decorativas criadas por um jovem designer alemão; passando por uma exposição de pintura japonesa contemporânea, e também por uma bela mostra da elegante caligrafia japonesa na chamada “Galeria do Povo”.

Tudo somado, passei um par de horas no interior do mais cotado museu de Kanazawa. E adorei. Só não foi tempo suficiente para que a chuva deixasse de cair dos céus. Felizmente, o Museu D.T. Suzuki não ficava muito longe. Caminhei até lá.

O museu tem site oficial em www.kanazawa21.jp

Museu D.T. Suzuki

O que ver em Kanazawa: Museu Suzuki
Entrada para o Museu D.T. Suzuki

O Museu Suzuki é único. Aliás, não é bem um museu. É um espaço. Um espaço de contemplação. Um espaço quase vazio. Para estar. Para meditar. Para ouvir o silêncio (ou, no meu caso, a chuva a cair).

Eu explico.

Daisetz Teitaro Sukuzi foi um filósofo budista de renome mundial nascido na cidade de Kanazawa, e o museu é o local onde se pode tomar contacto com as suas ideias. O mundo de D.T. Suzuki é apresentado num cenário que emana tranquilidade. As linhas retas, a água, os espaços abertos, a iluminação difusa. Socorro-me da literatura oficial do museu:

Este museu não é um lugar pensado apenas para mostrar exposições. É também pensado para que os visitantes se possam encontrar com Daisetz Suzuki de mente aberta, por forma a serem inspirados a contemplar os seus próprios pensamentos enquanto percorrem o Espaço de Exposição.

E depois, havia uma ala de aprendizagem, onde vi alguns jovens a ler sobre a vida do filósofo japonês. E, no final da visita, uma sala quadrangular praticamente vazia, com enormes aberturas laterais para o exterior. No centro, apenas um banco corrido. Era o Espaço de Contemplação, onde os visitantes eram convidados a refletir, meditar, parar o tempo.

O Museu D.T. Suzuki é, provavelmente, o museu mais enigmático onde já estive. Saí de lá praticamente em estado zen, a caminho do mais famoso jardim de Kanazawa.

Jardim Kenrokuen

Yukitsuri no Jardim Kenrokuen kanazawa
Yukitsuri no Jardim Kenrokuen de Kanazawa

Tido como um dos Três Grandes Jardins do Japão, o Kenrokuen era uma visita obrigatória durante a minha passagem por Kanazawa. O jardim fica fora dos portões do Castelo de Kanazawa, que eu acabei por não visitar, não muito longe do Museu Suzuki.

Dentro do jardim, há muitas e bem cuidadas árvores e arbustos, alguns riachos e um lago muito agradável, uma fonte emblemática, alguns templos onde imperava a simplicidade e até uma casa de chá. Ora, apesar de todos os atrativos visuais, o facto de estar um dia chuvoso seguramente contribuiu para um sentimento de alguma desilusão.

Sim, confesso não ter ficado fascinado com o Jardim Kenrokuen. Mas, tendo visitado o >Japão no inverno, houve uma coisa que chamou a minha atenção enquanto passeava no jardim: a yukitsuri. Trata-se de uma técnica japonesa, que usa cordas atadas em forma de cone para proteger as árvores dos grandes nevões invernais. Não conhecia e achei absolutamente fascinante! Isso, e o facto de o jardim – tal como os espaços verdes de todo o Japão – ser cuidado com grande dedicação e esmero.

Bairro Higashi Chaya (distrito das geishas)

Rua principal de Higashi Chaya, o bairro das geishas de Kanazawa
Rua principal de Higashi Chaya, o bairro das geishas de Kanazawa

Regressei depois ao meu hotel e descansei um pouco até à hora de jantar. O Bairro Higashi Chaya ficava literalmente do outro lado da ponte, muito perto, mas decidi visitá-lo apenas à noite. Visto à distância, julgo que não foi a melhor opção – em termos de ambiente, de movimento e até fotográficos -, razão pela qual recomendo que vá conhecer o bairro das geishas de Kanazawa durante a tarde.

O que fazer em Kanazawa. Bairro Higashi Chaya
Bairro Higashi Chaya já de noite (se puder, vá um pouco mais cedo, antes de jantar)

Higashi Chaya é um bairro relativamente pequeno, com ruas empedradas – algumas pedonais – e casas de madeira tradicionais, pertença de famílias japonesas que ainda hoje as habitam. Algumas dessas casas funcionavam como casas de geishas – é o caso da Ochaya Shima. Passeando por Higashi Chaya durante o dia, pode – e deve – visitar uma delas. Só assim é que este roteiro de um dia em Kanazawa seria perfeito.

Jantar no Fuwari (ou no Plat Home)

Com duas refeições no TOP 3 das melhores refeições que fiz no Japão, a cidade de Kanazawa confirmou-se como um paraíso gastronómico.

Eu, que valorizo as opiniões de quem vive nos lugares (por isso adoro a série de posts Portugueses pelo Mundo), tinha anotado três recomendações que uma japonesa tinha dado a uma amiga viajante. Entre elas, estavam o Fuwari e o Plat Home. Não satisfeito, perguntei no café Curio por recomendações de restaurantes em Kanazawa e, de novo, o Fuwari e o Plat Home foram mencionados.

Não fui jantar aos afamados restaurantes de sushi de Kanazawa mas, mesmo assim, tudo o que eu possa escrever sobre estas duas refeições nunca fará justiça às experiências gastronómicas que vivenciei nestes dois izakayas requintados. É ir, provar de tudo um pouco e sair a salivar por mais, mas com atenção aos exageros para a carteira não se queixar demasiado. Não se vai arrepender!

Um copo num bar local

Este bar foi outra recomendação que um habitante local me deu. Disse-me que era um izakaya muito agradável e que, se não ficasse satisfeito (ou se me controlasse muito por causa dos preços) ao jantar, podia lá petiscar qualquer coisa, acompanhada por uma cerveja japonesa, antes de regressar ao hotel.

Ora, por uma feliz ou infeliz casualidade, o Share Hotels ficava no caminho entre o restaurante e o bar; e, ao passar à porta, acabei por entrar no hotel e já não sai mais.

Se seguir este roteiro quando visitar Kanazawa e for beber uma cerveja no izakaya, conte-me como foi. Gostava muito de saber! Não sei o nome do izakaya (nem sei se tem nome), mas fica junto à ponte Tenjin Bashi (encontra a localização exata no mapa abaixo).

Para mim, este foi um dos melhores dias da minha viagem ao Japão.

Mapa: locais a visitar em Kanazawa

Guia prático

Onde ficar em Kanazawa

Desta vez, acertei em cheio. Fiquei alojado no fantástico The Share Hotels Hatchi e dificilmente consigo imaginar melhor hotel para dormir em Kanazawa. Moderno, design contemporâneo, minimalista, hiper confortável. O único senão será o tamanho do quarto, mas isso é um problema transversal a todo o alojamento no Japão.

Atualização: fui informado que o hotel Hatchi se encontra encerrado, e apenas o café funciona. Procure outros hotéis em Kanazawa no link abaixo.

Pesquisar hotéis em Kanazawa

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

Fazer seguro na IATI (com 5% de desconto)

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.