Grandes cidades que me conquistaram ao longo dos tempos [série 20 anos]

Por Filipe Morato Gomes
Melhores cidades do mundo: Jeddah
Al-Balad, Jeddah

Regra geral, sinto-me melhor em lugares pequenos – sejam eles aldeias de montanha, oásis num deserto, pequenas ilhas ou comunidades de pescadores – do que em grandes cidades.

E, uma vez em ambiente urbano, prefiro quase sempre as cidades de pequena ou média dimensão – e há várias que me apaixonaram ao longo dos tempos. Lugares como Antígua (Guatemala), Granada (Nicarágua), Santa Cruz de Mompox (Colômbia), Bérgamo (Itália), Mardin (Turquia), Ghardaia (Argélia), Ghadames (Líbia), Luang Prabang (Laos), Pingyao (China), Hoi An (Vietname), São Filipe (ilha do Fogo, Cabo Verde) ou Ubud (Bali, Indonésia), por exemplo. E tantas outras espalhadas pelo mundo.

Raramente senti o fascínio das maiores cidades do mundo, capitais gigantescas ou metrópoles com milhões de habitantes, como Nova Iorque ou Hong Kong. Mas a verdade é que, ao longo dos anos, houve um punhado de grandes cidades que me conquistaram. Pela sua alma, por um je ne sais quoi difícil de traduzir em palavras, por algo invisível que se sente ao visitá-las.

Aproveito, pois, o momento em que o Alma de Viajante faz vinte anos para partilhar algumas das minhas grandes cidades preferidas, espalhadas um pouco por todo o mundo (fora de Portugal).

As minhas grandes cidades favoritas

Esfahan (Irão)

Mesquita Imam, Esfahan
Mesquita Imam, em Esfahan

Em tempos escrevi que os iranianos são o povo mais hospitaleiro do mundo. E essa hospitalidade desinteressada e genuína acontece por todo o país. Ora, por algum motivo, em Esfahan essa arte de bem receber ultrapassa todos os limites.

O povo é mais feliz. A cidade é mais verde. A praça principal é “metade do mundo”. As casas de chá são um mundo alternativo. O rio dá-lhe uma áurea especial (ultimamente tem estado muitas vezes seco, mas isso é outra história!). Come-se bem. Será isso?

A verdade é que Esfahan é uma cidade muito especial. Pelo menos para mim. Ao ponto de ter escrito uma declaração de amor a Esfahan.

Estocolmo (Suécia)

Visitar Estocolmo, Monteliusvägen
Vista a partir de Monteliusvägen, um trilho muito cénico em Estocolmo, capital da Suécia

Julgo que Estocolmo não estará muito longe de ser a melhor capital da Europa para se viver. Foi essa a sensação com que fiquei ao visitar Estocolmo, ao ponto de ter escrito um texto com o título Estocolmo: espelho meu, existe cidade na Europa mais bela do que eu?. Aí, escrevi:

A água e o verde dão-lhe um ambiente de paz total, o centro histórico tem charme arquitetónico e a parte moderna não agride. Há imensas praças e ruas pedonais, mercados de rua com produtos frescos, esplanadas, bancos de jardim e relvados para lagartar. E é tudo relativamente perto.

Há centenas de pessoas a caminhar, a correr, a passear nos inúmeros espaços verdes com a água sempre presente. (…) Há milhares de pessoas a andar de bicicleta com os seus fatos de desporto ou de negócios. Li uma vez uma frase que se aplica a Estocolmo como uma luva: “país desenvolvido não é aquele onde pobre anda de carro, mas sim aquele onde rico anda de transporte público”. As diferenças sociais são pouco vincadas.

É daquelas cidades onde, caso conseguisse superar o trauma dos invernos deprimentes, não me importaria de viver.

Istambul (Turquia)

Torre Galata Istambul
Vista da cidade ao entardecer, a partir do topo da Torre Galata

Istambul é uma cidade vibrante como poucas. Encravada entre a Ásia e a Europa, a mais visitada das cidades turcas é uma metrópole de contrastes, de recantos mil, de pequenos segredos que só os habitantes conhecem ou o acaso permite descobrir. É a cidade da Rua Istiklal, de Orhan Pamuk, da Torre Galata e do estreito do Bósforo, do Museu Haghia Sophia e da Mesquita Azul e, claro, do Grande Bazar de Istambul, para mim um dos melhores mercados do mundo.

Mas é também a cidade da vida de bairro, da pesca na ponte, dos cafés criativos e lokantas tradicionais. Das pequenas descobertas. Já fui várias vezes a Istambul e, depois de conhecer as principais atrações de Sultanahmet, de visitar o Palácio Topkapi e de subir à Torre Galata, por exemplo, foi quase sempre o acaso e as recomendações de quem conhece bem a cidade que me levaram a descobrir alguns pequenos segredos de Istambul que me fizeram apaixonar ainda mais pela cidade.

É, por assim dizer, uma cidade com muitas camadas – que só o tempo e o vagar permitem desvendar.

Jeddah (Arábia Saudita)

Visitar Jeddah: Al-Balad
Al-Balad, o centro histórico de Jeddah

Uma das últimas viagens que fiz antes da pandemia foi à Arábia Saudita, logo depois de o país ter permitido a emissão de vistos de turismo para não muçulmanos. E, de entre todos os locais que visitei, Jeddah ganhou um lugar especial no meu coração.

Desde logo, porque em Jeddah se respira um ar mais liberal do que em qualquer outra cidade saudita. As pessoas são diferentes. Muito diferentes. Não faltam atividades ligadas às artes e cultura. E isso é como uma brisa refrescante num país que, apesar das grandes mudanças recentes, é ainda extremamente conservador.

E depois há Al-Balad, o centro histórico da cidade que a UNESCO classifica como Património Mundial, e que é um dos centros históricos mais espetaculares que já conheci. Imperdível!

Veja o que fazer em Jeddah.

Kyoto (Japão)

Geisha Kyoto
Uma aprendiz de geisha em Kyoto

No decurso do meu roteiro no Japão, houve duas cidades pelas quais me apaixonei perdidamente: a “apetitosa” Kanazawa (onde se come maravilhosamente bem!); e a tradicional e histórica cidade de Kyoto.

Ora, com templos como Kinkaku-ji ou Fushimi Inari, mercados como Nishiki, jardins zen como em Ryoan-ji, ruas curiosas como Pontocho, boa comida e bairros tradicionais como Gion, entre centenas de outros locais interessantíssimos, a verdade é que é difícil não se apaixonar por Kyoto.

Dá vontade de ali viver!

Veja o que fazer em Kyoto.

Nápoles (Itália)

Nápoles é outro amor recente. Nunca tinha visitado a capital da Campânia, e só em 2019 se proporcionou conhecer Nápoles e a Costa Amalfitana. Eis as primeiras palavras que dediquei a Nápoles num post de Instagram.

Estou apaixonado por Nápoles. Uma cidade com alma, de gente apaixonada que vive com sangue na guelra. Aqui não há falsidades, Nápoles é o que é e está tudo à vista – as palavras simpáticas, o olhar acolhedor, os graffiti na pedra, as beatas no chão, o lixo nos cantos, os mercados caóticos, a alegria das pessoas, os palácios decrépitos, as catedrais imponentes, as pizzas saborosas, as portas abertas. Numa época em que o “bonitinho” para o Instagram está na moda, Nápoles é uma chapada de luva preta: está tudo aqui, sem maquilhagem, é como é e quem não gostar tem bom remédio. Eu fico.

Mas Nápoles não é de fácil definição. É daqueles lugares onde o mais incrível é intangível; sente-se sem se ver. É uma cidade com alma. De uma beleza tão monumental quanto decadente, entrecortada por enormes sorrisos e portas abertas. Por vezes suja, com paredes de pedra grafitadas sem embelezar, dividindo a atenção com as estátuas, os palácios e os monumentos em cada esquina. Adoro!

Veja o que fazer em Nápoles.

Rio de Janeiro (Brasil)

Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil
Praia de Ipanema, Rio de Janeiro, Brasil

Circundada por uma orografia que lhe confere uma formosura apenas comparável com a Cidade do Cabo, na África do Sul, o Rio de Janeiro continua a ser, agora e sempre, a “cidade maravilhosa”.

Na verdade, conheço poucas grandes cidades tão magnéticas como o Rio de Janeiro. É famosa por albergar o maior Carnaval de rua do mundo; por praias como Ipanema ou Copacabana; por ser o berço do grande arquiteto Oscar Niemeyer; por ícones turísticos como o Corcovado e o Pão de Açúcar; pelos bairros boémios da Lapa e de Santa Teresa para onde o homónimo bondinho transporta artistas e admiradores do hippie-chic.

Mas também por ter no seu perímetro urbano favelas como a da Rocinha e do Alemão; e bairros como a Cidade de Deus, popularizada pelo cinesta Fernando Meireles.

Mais do que isso, é uma cidade habitada por um povo afável, alegre, de bem com a vida. Sim, até os cariocas têm algo de especial. Tudo somado, o Rio de Janeiro é, para mim, sem qualquer dúvida, uma das melhores cidades do mundo.

Tbilisi (Geórgia)

Centro de Tbilisi
Vista para o centro de Tbilisi

Tbilisi foi amor à primeira vista. Uma paixão inesperada, confesso. Ao ponto de ter escrito o seguinte:

Tbilisi é uma das cidades mais surpreendentes que tive oportunidade de visitar nos últimos tempos. Bonita, vibrante, misturando com mestria a modernidade com os bairros tradicionais; museus de qualidade e oferta cultural; e tudo cimentado com um ambiente jovem e descontraído, farta vida boémia, que faz da capital da Geórgia um destino, digamos, refrescante.

A verdade é que me apaixonei pela cidade. Imagino-me, aliás, sem grande dificuldade, a viver em Tbilisi – e não é de todo frequente ter essa sensação.

É, sem qualquer favor, uma das capitais europeias de que mais gosto!

Veja o que fazer em Tbilisi.

Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.