Está a ponderar visitar a Reserva Indígena Porto do Boi, em Caraíva? Faz muito bem! Na minha opinião, a experiência na aldeia Pataxó de Porto do Boi, perto de Caraíva, é muito mais rica, autêntica, tranquila e interessante do que a visita à Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro. Pelo menos por enquanto.
A visita à Reserva Pataxó Porto do Boi é uma imersão interativa na cultura indígena, onde o visitante pode conhecer a história, costumes, tradições e sabores do povo Pataxó. Além disso, poderá participar em rituais de purificação energética e espiritual de profunda conexão com as nossas raízes e as forças da Natureza.
Centro Cultural Pataxó, Porto do Boi
Sem qualquer dúvida um dos pontos altos do meu roteiro pela Costa do Descobrimento, visitar aldeia Pataxó de Porto do Boi foi uma experiência tranquila, emotiva e até certo ponto desafiadora. Já lá vamos!
A reserva fica no interior do município de Caraíva, a poucos quilómetros de distância do vilarejo e acessível por estrada ou subindo o homónimo Rio Caraíva. Vou então partilhar a minha vivência em Porto do Boi.
A minha visita à Reserva Indígena Porto do Boi
Gostaria de ter chegado a Porto do Boi de barco, subindo o Rio Caraíva. Mas, na impossibilidade de encontrar um barqueiro disponível, acabei por viajar até à Reserva Indígena de buggy. Lá chegado, e ao contrário da experiência na aldeia da Jaqueira, o ambiente era tranquilo e estavam poucos visitantes. Um excelente prenúncio do que aí viria.
Fui recebido por um índio que me deu as boas-vindas, esperou que deixasse os chinelos à entrada da aldeia (só se anda descalço, em contacto com o solo!) e que pagasse o ingresso na Reserva Indígena, e me pediu para aguardar um pouco. Como ainda tinha tempo, fui então espreitar a zona junto ao rio, fazendo uma curtíssima caminhada pela Mata Atlântica antes de ir ter com os companheiros que iriam tratar da minha pintura facial.
Pinturas faciais
Não costumo participar neste tipo de atividades, especialmente quando me parecem encenações turísticas. Mas, por algum motivo, ali, em Porto do Boi, pareceu-me uma genuína manifestação de partilha. Ou talvez fosse apenas eu que estava disposto a participar em tudo. E assim sentei-me e entreguei-me às mãos de um índio Pataxó, que me pintou a face de forma vistosa, com vermelho e preto.
Não sei explicar, mas algo que me fez sentir mais próximo dos meus anfitriões. E, por esse motivo, fiquei feliz por ter participado.
A partir desse momento, comecei a reparar com mais ênfase nas distintas pinturas das guerreiras e guerreiros da aldeia Porto do Boi. Ao que consta, nos casados as pinturas são sempre mais discretas; nos solteiros são mais exuberantes (para chamar a atenção). Não estava por isso à espera que a minha pintura fosse tão vistosa…
Palestra sobre história e costumes Pataxó
Findo esse procedimento, os índios chamaram os turistas para a oca, onde umas esteiras de palha estavam já colocadas no chão para nos sentarmos. No total, seríamos uns 15 ou 20. Foi então que os visitantes se reuniram na oca para ouvir uma palestra sobre o povo Pataxó, as suas dificuldades históricas e presentes, e um pouco da sua cultura.
No fundo, conhecer a versão Pataxó da história do Brasil e saber um pouco mais sobre os costumes, tradições e objetos indígenas de uso quotidiano. E foi muito, muito interessante.
Limpeza energética
O passo seguinte foi uma espécie de “limpeza energética”. Foi-nos pedido que nos levantássemos e um dos índios abanou o fumo provocado por incenso de ervas medicinais para cima dos visitantes. A ideia era “promover uma limpeza energética para a abertura dos caminhos da sua vida”. Primeiro pela frente, depois por detrás – sempre em busca do tal equilíbrio.
Seguiu-se o Awê Pataxó.
Cerimónia Awê
O Awê é uma celebração indígena onde “há muita música, cantos e danças típicas de exaltação das forças da Natureza”. Um momento onde o visitante “poderá participar e sentir a energia e a conexão”.
Houve tempo para nos serem apresentados objetos usados na música Pataxó, como o maracá; e outros objetos utilizados nos jogos indígenas. Houve tempo para ouvir música e assistir a uma dança tradicional. Para uma roda de dança interativa, em que cada visitante participava com um instrumento. E até para deixar as emoções virem à flor da pele.
Eu confesso que me emocionei. Não me recordo o momento exato, mas estava de mãos dadas a outros visitantes, numa roda, de olhos fechados, e a dado instante comecei a sentir as lágrimas escorrerem pelo meu rosto pintado. Senti-me frágil e vulnerável, e só pensava em como utilizar a força daquela batida, o ritmo forte e os cânticos indígenas para ultrapassar os problemas que assolavam a minha mente.
Foi tudo muito poderoso.
Não sei explicar.
Mas foi um momento lindo.
E ainda faltava a consagração do rapé…
Rapé
Confesso que estava um pouco receoso com os efeitos do rapé. Mas, desde a palestra inicial, quando o índio abordou a possibilidade de fazer a consagração do rapé, que tinha decidido que ali, naquele contexto, seria o momento certo para o fazer.
Era a possibilidade de viver uma experiência única de consagração da medicina indígena através do rapé. Ou seja, para quem aceitar o desafio, é possível consagrar rapé (por via nasal), uma medicina sagrada para a cultura Pataxó que serve para fazer uma limpeza espiritual e corporal, proporcionando um maior equilíbrio ao indivíduo e uma “mais profunda conexão consigo e com a Natureza”.
Eu aceitei consagrar rapé, e não há dúvidas de que a experiência tem os seus desafios. Metade da cabeça parecia que picava, e o ar faltou por alguns segundos, após o que uma estranha leveza se apoderou do corpo. Nada de muito intenso, já que a dose dada aos turistas é pequena e o rapé utilizado é pouco forte. Mas outras pessoas enjoam, vomitam ou ficam mesmo com falta de ar.
Convém esclarecer que consagrar rapé não tem nada a ver com a experiência de tomar ayahuasca – é muito mais leve! Mas, ainda assim, não é algo que recomende a toda a gente!
Como disseram os índios Pataxós durante a palestra inicial, não consagre rapé por brincadeira ou curiosidade, nem se tiver tomado bebidas alcoólicas. Mas sim por genuíno interesse na medicina indígena para obter um maior equilíbrio. E assim fiz. “Não tente enganar a medicina”, avisaram.
Provar a gastronomia pataxó
Uma vez consagrado o rapé, foi preciso dar algum tempo até que corpo e mente estabilizassem. É uma viagem leve, mas ainda assim uma viagem. Assim que me recompus, transmiti um sentido agradecimento ao índio Pataxó que liderou a cerimónia e abandonei a oca.
Era então chegada a altura de provar um delicioso peixe assado numa folha de taioba e temperado apenas com sal. Com o calor, a folha larga os seus sucos e o sabor do peixe fica inacreditável. Muito simples e delicioso, e melhor ainda quando acompanhado por uma banana da terra e um chá de erva doce. Ementa na Reserva Pataxó Porto do Boi aprovadíssima!
Banho de ervas medicinais
Para terminar a experiência na aldeia Porto do Boi, faltava apenas um banho de ervas medicinais em água morna para “limpar as energias negativas e trazer coisas boas para a sua vida”. A maioria dos visitantes aceitou o repto e deixou-se enxaguar pelas águas mornas de Porto do Boi. Eu não me apeteceu participar nesta última tarefa.
Era a última atividade proposta pela comunidade Pataxó da aldeia Porto do Boi, e toda a experiência tinha sido, para mim, maravilhosa. Muito diferente do que havia sentido ao visitar a aldeia da Jaqueira, em Porto Seguro.
A loja de artesanato indígena
Em Caraíva, o artesanato Pataxó é muito conceituado, por ser uma “representação pura da Natureza e da criatividade indígena”. Depois de visitar o rio, fazer pinturas faciais, ouvir uma palestra sobre a história Pataxó, participar em danças e cantos tradicionais, me emocionar, consagrar rapé, comer peixe e um banho de ervas, faltava apenas espreitar a loja de artesanato da aldeia.
E foi exatamente isso que fiz, antes de me despedir dos índios, recolher as havaianas e voltar ao buggy que me haveria de levar de regresso a Caraíva. Tinha sido uma experiência maravilhosa!
Se procura o que fazer em Caraíva, não hesite: vá à aldeia indígena Porto do Boi!
Dicas para visitar Porto do Boi
Onde fica a aldeia Porto do Boi?
A aldeia Pataxó de Porto do Boi fica no interior de Caraíva, a poucos quilómetros de distância do vilarejo – por estrada ou subindo o homónimo Rio Caraíva.
Como chegar à Aldeia Indígena Porto do Boi
Há duas formas de chegar a Porto do Boi a partir de Caraíva: de barco, subindo o rio Caraíva, ou de buggy. Consta que a viagem de barco é muito mais interessante mas, nos dias em que eu tinha disponibilidade para visitar a aldeia indígena Porto do Boi, não encontrei um barqueiro disponível. Fui, por isso, de buggy.
Para tal, combine com o Buggy Cabloco (WhatsApp +55 73 99984-0011) a hora e ponto de encontro, sendo que o mais provável é encontrar-se entre as 9:00 e as 9:30 no chamado Estacionamento do Xandó (junto ao mercadinho Companhia da Praia).
Em qualquer dos casos, pode sempre pedir ajuda ao pessoal da sua pousada em Caraíva.
Horários e preços
A vivência na Aldeia Indígena Porto do Boi tem um custo de R$100. Não é barato mas, em comparação com a experiência na Reserva da Jaqueira, vale cada centavo. A reserva começa a receber visitantes sensivelmente a partir das 9:30. Para mais informações consulte a página no Instagram da Reserva Pataxó Porto do Boi.
Onde ficar em Caraíva
Para entender um pouco melhor as diferentes regiões onde ficar hospedado, veja o guia completo sobre onde ficar em Caraíva. Em jeito de spoiler, posso adiantar que, na minha opinião, a área próximo da igreja é a minha região favorita para pernoitar em Caraíva. Mas se tivesse que escolher uma única pousada em Caraíva pela sua qualidade, localização e relação custo / benefício, a minha recomendação seria a Pousada Vila Verde ou, num registo mais económico, a Pousada Ziriguidum). E, para maior luxo, a Pousada Zinga Caraíva é um espaço absolutamente divinal, com design maravilhoso e aposentos a fazer lembrar outros destinos mais sofisticados. Vá à confiança!
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