Matera, o que fazer na cidade escavada nas rochas de Basilicata

Sempre tive um fascínio por cidades trogloditas, com as suas casas, mosteiros ou igrejas escavados nas rochas. Locais como Kandovan, no norte do Irão, Setenil de las Bodegas, na Andaluzia espanhola, ou Goreme, na Capadócia turca (entre outros), fazem parte do meu imaginário de viajante. Visitar Matera era, por isso, um dos principais objetivos da minha recente viagem à Puglia – com um saltinho à vizinha região da Basilicata para conhecer Matera, a cidade dos sassi (literalmente, a “cidade das pedras”).

Apesar de ter há muito planeado uma viagem a Matera, só agora concretizei esse sonho. E é de sonho que se trata, já que Matera é verdadeiramente especial. Entre igrejas rupestres, museus maravilhosos para visitar com calma e o simples ato de vagabundear pelos bairros históricos, a verdade é que não falta o que fazer em Matera. Especialmente no seu centro histórico e na zona alta da cidade, de cara lavada após ter sido Capital Europeia da Cultura em 2019.

Assim, partilho um pouco da minha experiência a visitar Matera, com referências às principais atrações turísticas que conheci na cidade e arredores. Aviso de antemão que gostaria de ter tido muito mais tempo para desfrutar da cidade – porque ela merece! Mas, seja como for, eis o que fazer em Matera numa estadia de um ou dois dias.

O que fazer em Matera (a minha experiência)

Antes de mais, convém dizer que, tal como em muitas outras cidades italianas, uma das coisas mais prazeirosas de Matera é caminhar sem rumo pelas ruas estreitas e íngremes do seu centro histórico, especialmente no sasso Barisano e no sasso Caveoso, em busca de recantos especiais e miradouros de pedra sobre a malha urbana encavalitada nas rochas.

Dito isto, e sem prejuízo da liberdade de explorar sem rumo, há um conjunto de património arquitetónico, museus e espaços ligados às artes que vale a pena incluir numa eventual visita a Matera, pérola maior da região italiana da Basilicata. Eis, pois, algumas sugestões concretas sobre o que fazer e visitar em Matera.

Igreja de São João Batista

Localizada perto da praça Vittorio Veneto, a dois passos do meu alojamento local, a Igreja de São João Batista foi a primeira igreja que visitei em Matera.

Não é para mim a mais impressionante, nem tampouco um templo rupestre, mas ainda assim vale a visita. Principalmente porque, ao que consta, “é um dos mais belos e mais bem preservados exemplos do estilo românico” na região da Puglia, tendo como elemento mais característico “a arquitetura interna tipicamente medieval”. Fica a referência.

Apreciar a vista no miradouro Luigi Guerricchio

Dada a sua orografia, Matera está recheada de excelentes miradouros para desfrutar de vistas incríveis sobre o coração histórico da cidade. Entre eles, o mais visitado é, sem dúvida, o miradouro Luigi Guerricchio; uma vez que beneficia de uma localização muito central e acessível a todo o tipo de turistas. Até porque é um dos melhores locais para fotografar sasso Barisano.

Convém talvez explicar que existem duas partes antigas distintas em Matera – chamemos-lhes bairros! O sasso Caveoso, mais antigo, onde Matera se formou à medida que as primeiras cavernas foram sendo escavadas; e o sasso Barisano, ligeiramente mais recente, do outro lado da colina, no vale vizinho, com as casas igualmente construídas desde o topo da colina até à base. São eles o coração da Matera histórica que, hoje em dia, atraem visitantes de todo o mundo.

Cisterna Palombaro Lungo

Os habitantes dos sassi de Matera sempre tiveram de resolver o problema da falta de água na cidade. Para tal, foram equipando as suas casas com pequenas cisternas escavadas no interior da habitação, cisternas para as quais eram canalizadas as águas pluviais a partir dos morros envolventes.

Ora, ao que consta, com o aumento da população e a chegada de famílias mais abastadas, as autoridades locais decidiram construir uma gigantesca cisterna para uso comum, localizada debaixo da atual praça Vittorio Veneto e conhecida como Palombaro Lungo. É, para mim, uma das atrações mais espetaculares de Matera!

Igreja de São Pedro Barisano

A primeira vez que reparei na igreja foi através do pátio superior com vista para a torre sineira. A imagem de uma senhora sentada a ler, sozinha, chamou-me a atenção; pelo que me aproximei para captar o momento. Só depois decidi procurar a entrada da igreja.

Na verdade, visitá-la não estava sequer nos planos; e confesso que, no seu todo, não achei nada de extraordinário – pelo menos quando comparada com outras atrações de Matera. E isto apesar de ser considerada a maior igreja de pedra de Matera. É, naturalmente, uma opinião que vale o que vale.

Ainda assim, tem alguns frescos de assinalar; e, mais interessante, salas de pedra com nichos especiais no subsolo, alegadamente usados “para a secagem de cadáveres” de padres e outras personalidades a quem este “privilégio póstumo” estava reservado.

Fica a referência, para o caso de ter tempo e de já não saber o que fazer em Matera ao fim de dois ou três de visita.

Para saber mais sobre as igrejas rupestres de Matera (ou até comprar online um bilhete combinado), veja o site Oltrel’Arte.

Complexo Rupestre Madonna delle Virtù e San Nicola dei Greci

Sem dúvida um dos locais mais espetaculares de Matera, o Complexo Rupestre Madonna delle Virtù e San Nicola dei Greci foi, antes de mais, uma enorme surpresa. Na minha ignorância, pensava ir visitar grutas incríveis com frescos em bom estado; e só quando lá cheguei é que percebi que ali estava instalado o Museu Dalí a Matera – uma criação para a Capital Europeia da Cultura 2019.

Trata-se de uma instalação de obras inteiramente dedicadas ao mestre do surrealismo espanhol Salvador Dalí. Ou, nas palavras oficiais, “uma viagem interativa no mundo surreal” de Dalí.

Salvador Dalí – A Persistência dos Opostos é um itinerário expositivo criado no Complexo Rupestre de Madonna delle Virtù e San Nicola dei Greci, localizado no sassi de Matera. A exposição está dividida em quatro macroáreas temáticas e é acompanhada por uma narrativa que se desenrola ao longo do museu.

O itinerário expositivo contém alguns dos principais dualismos conceituais que formam a arte de Salvador Dalí, essa justaposição de opostos que só encontram compensação pela inspiração artística…

in site oficial do Museu Dalí a Matera

Ora, além do génio de Dalí, não me ocorre melhor local para instalar uma exposição de arte. É um espaço absolutamente divinal para esse efeito, onde a contemporaneidade artística se funde com o ambiente troglodita do complexo rupestre.

A entrada é mais cara do que na maioria das outras atrações a visitar em Matera (custa 12€).

Catedral de Matera

Construída no ponto mais alto da colina que separa os dois bairros antigos da cidade – sasso Caveoso e sasso Barisano -, a Catedral de Matera é uma obra imponente e ricamente decorada. Mesmo para os não crentes ou não apreciadores de arte sacra, está ao nível das melhores catedrais que conheci na minha viagem à vizinha Puglia.

Fica a referência para o “presépio de pedra” em exibição numa das naves laterais da catedral. A visitar!

Igreja rupestre de Santa Maria de Idris

Do ponto de vista arquitetónico, não haverá grandes dúvidas de que a igreja rupestre de Santa Maria de Idris é a mais extraordinária igreja de Matera. Fica literalmente “dentro” de uma monumental formação rochosa na parte superior do esporão rochoso de Montirone. E é incrível!

Ao que consta, a igreja data do século XV. De planta irregular, é caracterizada por ter duas partes distintas: uma construída e outra escavada. Faz parte de um complexo que inclui também uma cripta mais antiga dedicada a San Giovanni in Monterrone – local onde ainda sobrevivem alguns frescos interessantes, embora parcialmente danificados pelo tempo (e pelo abandono a que Matera foi votada).

Nota: não são permitidas fotos no interior.

Igreja rupestre de Santa Lucia alle Malve

Seguramente um dos lugares mais espetaculares de Matera, a igreja rupestre de Santa Lucia alle Malve é um pequeno templo religioso escavado nas rochas, com alguns frescos incríveis e em razoável estado de conservação. Foi dos meus locais favoritos nos sassi de Matera – e que considero, por assim dizer, imperdível.

A igreja de pedra data do século VIII e é frequentemente considerada como “a mais importante igreja de Matera”. Tal como explicado no local, o templo era composto por três naves, mas apenas uma delas permaneceu com funções eclesiásticas ininterruptamente até aos dias de hoje. As outras terão sido, ao longo dos tempos, transformadas em armazéns e até casas de habitação. É linda!

Nota: não são permitidas fotos no interior.

Miradouro da praça Giovanni Pascoli

Não é segredo que Matera está recheada de excelentes locais para observar os sassi Barisano e Caveoso – com particular ênfase no primeiro. Ora, o miradouro localizado junto à praça Giovanni Pascoli é um desses locais privilegiados, com a particularidade de ter uma vista fantástica sobre o sasso Caveoso, a parte mais antiga de Matera. A visitar!

Nascer do sol no miradouro Murgia Timone

Estando em Matera e prestando atenção à sua posição perante o sol, pareceu-me uma excelente ideia madrugar para assistir ao nascer do sol no miradouro Murgia Timone, localizado em frente a Matera, do outro lado do desfiladeiro onde passa o rio Gravina.

Quando lá cheguei, o vale estava coberto por uma densa camada de nuvens, não permitindo vislumbrar absolutamente nada. Mas, aos poucos, tendo o sol pelas costas, as casas foram sendo iluminadas com as cores quentes do amanhecer, proporcionando uma imagem de grande beleza.

Não me ocorreria melhor forma de terminar a minha visita a Matera!

Outras coisas a fazer em Matera (e arredores)

Mas não é tudo. Como é evidente, esta não é uma lista exaustiva com o que fazer em Matera, mas sim o resultado da minha curta experiência a visitar a cidade. Até porque, como disse, deveria ter dedicado mais tempo a Matera no meu roteiro. Dito isto, além das atrações referenciadas no artigo (e no mapa), considere fazer ou visitar o seguinte:

• Fazer o percurso pedestre entre Matera e o miradouro Murgia Timone;
• Visitar o excelente MUSMA – Museu da Escultura Contemporânea;
• Experimentar a nova experiência MUST – Matera Underground Stories and Traditions;
• Visitar a Casa Noha, uma casa-museu que recria a vivência numa casa troglodita de Matera (estava temporariamente encerrada na altura da minha viagem);
• Conhecer o MOOM – Museu do Azeite de Matera;
• Visitar a Cripta do Pecado Original, localizada a 13 km de Matera.

De resto, e embora seja um pouco mais longe mas ainda na região da Basilicata, consta que a cidade de Policoro é igualmente fascinante. Não tive oportunidade de fazer esse desvio durante o meu roteiro de viagem na Puglia, mas fica a referência para quem tiver tempo. Fica a 68 km de Matera.

Mapa dos lugares a visitar em Matera

No mapa acima, encontra a localização exata de todos os lugares referenciados no artigo. Como vê, não falta o que fazer em Matera!