O que fazer em Bérgamo, Itália

Recentemente, tive o prazer de visitar Bérgamo pela primeira vez. Foi uma de muitas viagens a Itália e, tal como das restantes, não me desiludi. A grande novidade é que, desta vez, ao invés de escolher grandes cidades como Roma, Veneza, Milão ou Florença, visitei uma pequena urbe afastada do turismo massificado. Um destino tão perto de Milão e por isso tantas vezes negligenciado. Mas não falta o que fazer em Bérgamo, garanto. É um destino bonito e fascinante.

A maioria das pessoas que aterram no aeroporto de Bérgamo chega a bordo de um avião da Ryanair. No exterior do terminal, há inúmeros autocarros que ligam o aeroporto de Bérgamo a Milão, por cerca de 5€ e em menos de uma hora. Vi-os partir, mas fiquei.

Na verdade, nunca tinha cogitado visitar Bérgamo até o Turismo de Bérgamo me ter convidado a conhecer a cidade durante um par de dias. Escolho criteriosamente as press trips que aceito – porque em muito limitam a liberdade que só viajar sozinho garante – mas, desta feita, o grupo era pequeno e formado por bloggers de vários pontos da Europa, pelo que me pareceu uma oportunidade de juntar o útil ao agradável: conhecer Bérgamo, por um lado, e gente do mesmo ofício, por outro.

Posso sem hesitações afirmar que em boa hora decidi visitar Bérgamo!

A cidade alta de Bérgamo

A cidade amuralhada de Bérgamo é uma pequena pérola. Uma constatação comum a muitas outras cidades italianas de média dimensão – é certo -, onde cada centro histórico é um museu vivo de arquitetura e história, mas eu não ia preparado para encontrar isso em Bérgamo de forma tão evidente. Sim, viajei sem planear fosse o que fosse, e isso às vezes é o melhor!

Desprovido de expectativas, fui desde a primeira hora surpreendido positivamente. Porque Bérgamo emana uma atmosfera singular, despretensiosa e com uma onda muito boa. As ruas de paralelo têm um charme incrível. A comida – ai, a comida! – é deliciosa. E tem ainda pouco turismo. É daqueles lugares onde me senti imediatamente bem sem saber muito bem porquê. Especialmente na città alta, o tal centro histórico onde me instalei.

Quis o destino que dormisse nos bem cuidados apartamentos do B&B Alla Rocca. Os aposentos eram normalíssimos, mas a sua localização na Piazza Mercato delle Scarpe (Praça Mercado dos Sapatos), coração da cidade alta bergamasca, é absolutamente imbatível – e a localização é do que eu mas prezo ao escolher alojamento. Tanto que o ponto de encontro para o pequeno grupo de bloggers que me acompanhava era ali mesmo, em frente à varanda do meu quarto.

Lá fora, para além da chuva, esperava-me um passeio pela città alta. Estava pronto para descobrir os encantos de Bérgamo.

O que visitar em Bérgamo

Se acompanha este blog, sabe que gosto de viajar devagar, de me deixar ficar nos locais onde me sinto bem. Desta vez, porém, tal não foi possível – gostaria de ter tido mais tempo para explorar Bérgamo – e, devido à chuva, fico a dever às esplanadas das praças de Bérgamo um regresso. Ainda assim, deu para aproveitar a viagem.

Não vou escrever uma espécie de top com as melhores atrações ou dicas sobre o que fazer em Bérgamo, antes partilhar o que mais gostei, entre todas as coisas que fiz durante a minha estadia.

Depois de uma curta visita à Academia Carrara, reaberta após sete anos de encerramento para renovação e tida como uma das “dez mais importantes galerias de arte italianas” (tem uma das mais relevantes coleções de pintura Barroca e Renascentista do norte de Itália), voltei ao centro histórico de Bérgamo, na parte alta da cidade. E foi aí que conheci alguns dos seus atrativos principais: as ruas e praças da città alta.

Bérgamo e suas piazzas

A Piazza Mercato delle Scarpe foi o ponto de partida para as minhas deambulações pela cidade de Bérgamo. Manhã cedo, num descanso vespertino ou noite dentro, fui um observador privilegiado da praça, ponto nevrálgico da cidade alta – o meu quarto tinha uma varanda virada à Mercato delle Scarpe. O movimento era escasso e as esplanadas estavam vazias (já disse que choveu o tempo todo?), mas não trocava esta varanda por um hotel mais chique.

A Piazza Vecchia (ou Praça Velha), principal praça da zona alta de Bérgamo e o genuíno coração bergamasco, é de uma beleza tranquila e equilibrada, discreta sem ser simples, rica sem ostentação. Reparei imediatamente na sua fonte de mármore branco, bem ao centro, seus cafés e esplanadas e, claro, os marcantes edifícios da Biblioteca Pública “Angelo Mai”, de um lado (que não visitei), e da Torre Pública ou Campanone, do outro.

Qual sentinela entre ambas as praças, a Torre Pública erguia-se céus adentro, imponente, clamando para que a subam até ao topo. Foi o que fiz. Lá em cima, a chuva e o frio não davam sinais de querer abrandar e um denso nevoeiro colocava a Catedral no meio das brumas, acrescentando uma áurea de mistério e encantamento a Bérgamo (podia escrever que tinha o corpo praticamente gelado e que nada se via para além de um manto branco de nuvens baixas, mas há sempre um lado positivo nas coisas).

Se estiver na Piazza Vechia ou algures nas redondezas por volta das 22:00, ouvirá os sinos tocarem 100 vezes, recordação dos tempos em que os portões das muralhas eram fechados a essa hora por questões de segurança, e os toques serviam para avisar os bergamascos de que era hora de voltar para o interior da cidade.

A vizinha e minúscula Piazza Duomo é como que uma continuação da Piazza Vechia e concentra uma miríade de edifícios históricos e pormenores curiosos. A começar pela romanesca Basílica de Santa Maria Maggiore, porventura o mais significativo edifício de toda a cidade velha de Bérgamo. Paredes-meias com a entrada da basílica exibe-se aos fiéis a renascentista Capela Colleoni e seu Batistério. Lá dentro, esculturas riquíssimas e frescos da autoria de Giovan Battista Tiepolo ornamentam a capela de forma magistral. E há ainda simbólicos trabalhos de madeira, normalmente resguardados, que tive o privilégio de vislumbrar, tornando a visita verdadeiramente recomendável mesmo aos não crentes.

E depois há as ruelas da cidade alta! Como a Piazzeta Luigi Angelini e tantas outras. Estreitas, bonitas, tradicionais.

Quando dei por mim era de noite. Hora de relaxar, tomar um aperitivo no Caffè della Funiculare e degustar uma refeição memorável no Baretto – seguramente um dos melhores restaurantes de Bérgamo – acompanhado por bergamascos simpáticos e hospitaleiros.

Já a noite ia alta quando, entre goles de uma belíssima cerveja artesanal no bar Osteria della Birra, fui pensando que no dia seguinte iria estar afastado do perímetro urbano para visitar Clusone e o Lago Iseo. O que eu ainda não sabia era que, no regresso à cidade, ao final do dia, iria comer uma das melhores pizzas de todos os tempos no magnífico restaurante DaMimmo. Nem que iria adorar a minha primeira ópera.

Sim, bastaram dois dias para me apaixonar por Bérgamo. Foi Francesco Alevva, da Comune di Bergamo e magnífico companheiro de viagem, quem nessa noite definiu Bérgamo na perfeição: é uma “bela adormecida”.

Pela minha parte, gosto tanto desta Bérgamo, tranquila, hospitaleira e despojada de hordas de turistas, que não estou certo de que me apeteça contribuir para acordá-la. Egoísmos à parte, é um destino que lhe recomendo vivamente. Acordemo-lo, pois: Bérgamo, un bacio!

Viajei a convite da Visit Bergamo.