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Sampa, a mil, na cidade que nunca dorme

Por Vanessa Rodrigues
Bar Skye, no Hotel Unique São Paulo
Bar Skye, no Hotel Unique São Paulo

Rebelde, cosmopolita, sedutora, aberrante, insone, multicultural. São Paulo é a hiperbolizada metrópole brasileira, “o avesso do avesso do avesso”, na estranha geografia de um labirinto de experiências e contrastes. Centro de negócios, capital cultural, luxo e ritmo high-tech. Laboratório de vida a céu aberto, no rasto de um Brasil pujante. Está preparado para viver a mil? Um roteiro de viagem a São Paulo, por etapas.

1. Saber usar a caixa de velocidades em São Paulo

Sejamos sinceros: quantas vezes já pensou pôr a cidade de São Paulo na lista pessoal de viagens imperdíveis? Não pensou, ? Então o texto que se segue pode ter efeito a negrito na lista de viagens da próxima vez. Ou, quem sabe, apagá-la de vez.

Theatro Municipal de São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo

Mas há uma outra advertência que temos que lhe fazer, antes que avance ou decida desistir desta prosa (tendenciosa: de uma portuguesa que viveu intensos 5 anos por lá): uma checklist pré-São Paulo, antes que você tenha caído na armadilha de uma cidade como esta se lhe revelar com desilusão amarga a amante virtual: mais fantástica no anonimato do que ao vivo. É que desconhecido costuma ser combustível no motor de desejo.

Por isso, leia o que se segue sem açúcar na benevolência: não vá a São Paulo se não tem a adrenalina de viver como se tivesse uma mecânica de Ferrari dentro de si (não estamos a exagerar) – com mudanças automáticas de preferência -, se guarda preconceitos na mala, se lhe faltar estômago de aço inoxidável (a sede do mundo gastronómico assentou residência lá) e se não tiver tempo.

Sobretudo tempo. Sim, Sampa, é dessas cidades: ela há de sorver-lhe os grãos da ampulheta de forma acelerada (lembre-se da mecânica hiperativa), enquanto lhe pede para a degustar com lentidão do calendário. No mínimo-dos mínimos-dos mínimos, e a ser condescendente: uma semana inteirinha a puxar por mais.

Se não reunir todos esses requisitos, a prosa que se segue já de nada lhe vale e evocamos o escritor argentino Jorge Luis Borges quando fala de Buenos Aires: Não venham a São Paulo, queremo-la só para nós. Há segredos que não merecem ser revelados a quem não estiver preparado. Como Caetano, com sua Sampa – melodia (1978), o carinhoso nome dado a São Paulo, a ela também um dia se rendeu, entranhando-se por secretos poros, numa esquina, entre duas avenidas. Já lá vamos!

2. Ponto de honra, ou amor num só andamento

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
(Sampa, Caetano Veloso, 1978)

A chegada pode ter um efeito tratamento choque: não ficará seduzido pelo retalho de casas na marginal do Rio Tietê. Passada esta etapa inevitável de grande metrópole de contrastes, já vemos um verde imenso a invadir a Avenida Pacaembu a caminho do palpitar da verdadeira Sampa: high tech, capital cultural, movida de entretenimento, e esquinas para bon vivants de todos os bolsos.

Vista aérea para a cidade desde o Terraço Itália, no centro de São Paulo
Vista aérea para a cidade desde o Terraço Itália, no centro de São Paulo

Por isso, a pior coisa – e já famoso cliché – que pode dizer sobre São Paulo é que parece “uma selva de betão” e que gosta “mais do Rio”. Só lhe serve para acicatar a rixa paulistas versus cariocas. Uma coisa tipo tripeiros versus alfacinhas. Se lhe sair um desabafo com esse sentido fazemos-lhe desde já o diagnóstico intolerante: você não viu nada de São Paulo, você não conhece São Paulo; e essa tendência redutora de querer comparar as cidades é um imperdoável equívoco.

Ao Rio o que é do Rio.

A São Paulo o que é de São Paulo.

Propostas diferentes. Díspares cadências. Estamos entendidos?

Feita a segunda advertência, como ponto de honra, podemos já engrenar a marcha para a terceira. Um certo enamoramento. O que faz dela uma cidade a alta velocidade? A falta de tempo. É um plano sequência. Ficaremos sempre ofegantes se a quisermos degustar, de uma só vez. E essa é a primeira de várias contradições. Cidade de personalidade difícil. Paradoxal! Mas cuja celeridade nos faz avançar um pouco mais em nós, na nossa vida pessoal, se a soubermos degustar e vivenciar: o espaço entre o erro e a correção desse erro é muito rápida. Logo, aprendemos mais rápido. Experimentamos. Vamos!

Sampa é, por isso, a cidade da experimentação. O cardápio é uma infinidade de páginas de hipóteses por folhear. Talvez, quem sabe: viva-se mais. Vamos lá: quer comer sushi às cinco da manhã? Venha daí: delivery! Precisa de um pneu às três da matina: há uma garagem ali ao lado. Quer flores às quatro da madrugada? Gervásias, rosas, ou jarros? Pertinho da Avenida Paulista, a Av. Doutor Arnaldo: duas das dez bancas ficam abertas 24 horas, revezando. Voilá. A cidade que nunca dorme. Não. Não! Esperem! Ela faz turnos: há várias São Paulo, então. É insone na orgânica: acelerada, mas que exige ser saboreada, assim, lentamente. Caia na boémia, experimente! Sem tabus e medos.

Se não andar a ostentar riqueza e posse, o cliché da violência soar-lhe-á a ridículo. É evidente que há perigo. Como andar em qualquer cidade desprevenido: atreve-se a andar sozinho, à noite, em algumas ruas do centro do Porto ou Lisboa? Vivi 5 anos em São Paulo: andei de autocarro, metro e a pé, sozinha, à noite. Sim, à noite! Guardo apenas a memória de um telemóvel surripiado, porque deixei a carteira aberta num boteco, convidando a vilanagem.

Agora a terceira advertência: jamais diga que detesta São Paulo se lá passar um dia, três, de fugida, no habitual equívoco de quem está de passagem, a fazer escala: ela não merece e a injustiça é uma coisa que ela não perdoa.

3. São Paulo com o mundo a seus pés; noites brancas!

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
(Sampa, Caetano Veloso, 1978)

É sábado, qualquer um. 19h. Rua Augusta, lado centro, depois de cruzar a Avenida Paulista. Peço aquele bife à parmegiana no boteco BH (quase segunda casa), esquina com a rua Luís Coelho; ou mesmo a famosa coxinha de frango no “Ministro”, ou Ministrão como é carinhosamente chamado (até posso começar o esquenta lá – como quem diz o aquecimento – e seguir para a Augusta depois, não tem ordem), do português Fernando – que veio de barco aos 15 anos para o Brasil, na mesma época em que o seu conterrâneo, Carlos Paredes, compunha Verdes Anos. A emigração fervilhava.

Boteco numa rua de São Paulo
Boteco numa rua de São Paulo

E Sampa hoje é um reflexo disso: das várias migrações que a cidade recebeu vindas, sobretudo, do porto de Santos, onde atracavam grandes navios oriundos de grandes cantos do mundo, como o Japão (início do século XX), Itália (1880-1930), Portugal (remonta ao século XVI, necessariamente).

E se já falamos do reflexo, vamos aos espetros de uma geografia internacional que se cravou na cidade. Sampa é a mais despudorada das cidades; um laboratório antropológico a céu aberto. Vamos ao que interessa, porque não há tempo, lembram-se?

Em síntese, o ecossistema da Grande São Paulo é um estudo de caso, uma amálgama de culturas e comunidades que a cidade acabou por assimilar para formar a identidade de hoje: tem um bairro oriental (Liberdade); Higienópolis (bairro judeu); Mocca e Bexiga (bairros portugueses, italianos, árabes).

É o país com mais japoneses depois do Japão, tem o maior tráfego de helicópteros, 18 milhões de habitantes na grande São Paulo (o estado tem 33 milhões), milhares de opções gastronómicas, mais de 200 peças de teatro e espetáculos por dia. Fecham e abrem restaurantes como quem muda de camisa. A vida a mil, na cidade que nunca dorme. E se ao sábado, ou à semana, assento arraial quer no BH, quer no Ministrão: é certo e sabido que tão cedo de lá não saio.

Chega um, três, cinco amigos. Até que o bate-papo saboreia a gente que quer pôr a conversa em dia. Não há aipim frito que resista a uma boa conversa, mesmo depois do bife à parmegiana, depois do primeiro gole na geladinha (não me disseram que esta prosa era “sem álcool”), ou do segundo glup (a Serra Malte escorrega que é uma beleza, mas a Original também desliza bem, por estes dias; e em dias de bolso mais enxuto a Skol, mais barata, faz a vezes da festa, com grande competência).

Pormenor de néons na rua da Glória no bairro da Liberdade, São Paulo
Pormenor de néons na rua da Glória no bairro da Liberdade, São Paulo

Com conversa animada, difícil fica a escolha da casa seguinte: a Casa de Francisca, em Jardins, sempre tem música boa ao vivo; o Bar do Veloso tem caipirinhas imperdíveis (de líchia, maracujá, jabuticaba; picantes; frutas vermelhas, de gengibre; feitas da melhor cachaça) mas há dias em que o pé pede mais um pouco de samba, e o gingado do corpo um estremecido de dança, por isso o bar Ó do Borogodó, em Pinheiros, um dos bairros nobres, sempre há de ser destino de boémia. A Dona Inah, que ganhou o prémio musical TIM, em 2006, revelou-se lá e a voz de Gigi Trujillo, que adora Carmen Miranda – e bem a canta – sempre seduz com rebolado que o corpo pede (“Olha a cuiquinha! A cuiquinha!”).

Se fome houver, um escondidinho de carne seca sacia fome gulosa por ali. E, se até às duas da matina não estivermos satisfeitos com a boémia (e apraz-nos sermos um pouco mais como grande Adoniran Barbosa, pseudónimo para João Rubinato, um dos maiores compositores de samba do Brasil, paulistano, inspirava-se no povo, contando as histórias da esquina), é porque temos noite branca para cumprir.

E noite branca para cumprir, sempre empurra, de novo, para a extensão da boa vida:

1. ir até Vila Madalena, o bairro trendy, “descolado”, recheado de botecos de rua e rua com botecos que se transformam em discoteca;

2. a Augusta, de novo, a 15 minutos de táxi, daqui (e eu sou um bocado Augusta-dependente: o Barão de Itararé para uma comidinha gostosa;

3. o Estadão aberto 24 horas (também nunca dorme), no centro, para comer aquela sandoca de pernil. Até porque, apesar de ter várias alternativas para dançar, Sampa é mesmo (palavra de luso-paulistana) a cidade da boémia na rua, da conversa, do boteco.

Podemos começar de novo, no dia seguinte: haverá a esplanada do restaurante-café Athenas, nessa esquina do Brasil, a rua Augusta, com um vinho do novo mundo: o Chile, a Argentina, ou o Brasil no copo (até porque a vitivinícola portuguesa Dão Sul tem o delicioso Rio Sol, feito em terras de Rio São Francisco, Petrolina, no nordeste brasileiro). É isso: traz um amigo, também!

4. Da Avenida Paulista à Liberdade

Vamos ao bairro dos olhos em bico. Há um cheiro aziago, agridoce, que entra pelas narinas, mal se sai da estação metro da Liberdade. Linha Azul.

Da Avenida Paulista (outrora o centro de negócios, com seus arranha-céus, hoje destronada pela avenida Berrini) apanhar a linha verde em direção ao Paraíso. Do Paraíso à Liberdade são meia dúzia de tlins estridentes com voz feminina a anunciar as estações. O cheiro começa a sentir-se quando galgamos os últimos lances de escadas até ao torniquete da saída. Mesmo que nunca tenha estado no Japão, na China, na Coreia do Sul ou em algum país com contornos orientais, há de imaginar-se, espontaneamente, a entrar nesse portal de orientalidade.

Jardim da Pinacoteca do Estado de São Paulo
Jardim da Pinacoteca do Estado de São Paulo

Candeeiros que parecem flores brincos-de-princesa. Cores: vermelhos e brancos. Grande néons com carateres japoneses. Miúdas de olhos em bico, cabelos negros, lisos, corpos magros, roupas a lembrar banda desenhada Manga. Mas a falar português. A emigração japonesa do início do século XX deixou herdeiros que não falam mais o japonês. São nissei.

Ao redor, barracas onde se faz, na hora, yakisoba, rolos primavera, sushi. Há bolos de feijão. Mais cheiro agridoce, molho de soja. Cogumelos jimeji. Raízes de gengibre. Um McDonald’s com carateres japa.

Supermercados com etiquetas em japonês: chás, bolachas, mais sushi fresco. Há ainda lojas de kimonos, quinquilharia, um templo de meditação zen, louça e bules orientais, candeeiros com carateres orientais.

Entro num restaurante durante a semana, mais calmo: pode ser a altura ideal para os amantes de sushi, que nesta região não desilude. Tenho dois de eleição, pelo equilíbrio de que gostamos: relação preço-qualidade.

O sushi-Lika tem um temaki delicioso, janta-se de pés descalços (embora também tenha a opção usual) e o atendimento é personalizado. Melhor mesmo é sentar no balcão se não se for com um grupo grande. Vendo os sushimen a enrolar as algas no sushi pode render umas quantas porções extra, como quem nos diz: experimente e veja se está bom!

O outro é o Restaurante Asiático, na rua da Glória, mais simples, e com comida em regime rodízio: preço fixo e peça o que quiser! Gosto, sem dúvida, mais de degustar a Liberdade à semana, com cheiro a fim de semana. Ao sábado ela fica mais agitada: mil pés a circundá-la, porque todas as lojas são mais baratas na maioria dos produtos.

E, ao domingo, há a feira no largo: as barracas estão montadas com o sushi ao preço da chuva; o bolinho de feijão parece mais gostoso naquela azáfama, porque tivemos de lutar para conseguir chegar perto; o camarão espetado no palito gigante parece saído da grelha e aquele jeito de ter de comer em pé tem qualquer coisa de antropológico, para animar o domingo, que tem fama de ser pachorrento.

Liberdade é isto em Sampa. Fugir-lhe é desperdiçar um outro olhar sobre esta cosmopolita cidade.

5. São Paulo, labirinto cultural

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Pode ser novidade para os desprevenidos, mas São Paulo é já há algum tempo a menina dos olhos do Brasil. Segundo a consultora de renome PricewaterhouseCoopers, São Paulo está no top 10 das cidades mais caras do mundo. Tem o oitavo maior PIB do planeta. Uma metrópole luxuosa, ainda a transpirar contrastes, evidentemente, mas com uma pujante economia, atraindo não só investimento, como também, uma única geografia cultural.

Pinacoteca do Estado de São Paulo
Pinacoteca do Estado de São Paulo

Tem boteco, roda de samba à semana, chorinho, cultura de periferia (a literatura do Marc Férrez e do Sérgio Vaz está aí, na vida das prateleiras, rodando, para o provar), cachaça a altas horas, sushi a 200 reais€, néons de striptease, hotéis luxuosos, spas imperdíveis, cultura de elite, cultura do povo e povo na cultura (mas também elite na cultura do povo).

Tem Bienal de Arte, tem Bienal de Arquitetura, tem o Parque Ibirapuera (projetado pelo mestre Óscar Niemeyer) – com Museu de Arte Moderna – e onde acontece o São Paulo Fashion Week, tem o pôr-do-sol no Skye, o terraço do luxuoso Hotel Unique, projetado pelo famoso arquiteto brasileiro Ruy Ohtake (uma cervejinha ao fim do dia não torna o bolso mais pobre e a vista é incrível).

Tem ainda mil encantos, como o terraço Itália no centro com vista de 360 graus a desafiar o olhar macro (o antropológico e esquecido centro, relembrando a belle époque – e este assunto trataremos num São Paulo parte II).

Este haver imenso estende-se: tem Sé Catedral, tem Museu da Língua Portuguesa, e Pinacoteca (no bairro da Luz), tem Mercado Municipal (com suas famosas sandes de mortadela), tem a fervilhante rua 25 de Março e suas bugigangas (onde as gentes parecem formigas atarefadas), tem Museu de Arte Contemporânea, tem Theatro Municipal (assim mesmo escrito), tem boémia infernal na rua Augusta, e na Praça Roosevelt, onde se junta a malta do teatro marginal (as companhias de teatro Os Satyros e Parlapatões ficam por lá); tem feijoada em Vila Madalena, o mais refrescado e moderno bairro, com supermercados vegetarianos e lojas alternativas; tem Chorinho (o samba paulista); tem cantinas italianas no bairro do Bexiga (descendentes de italianos), tem milhares de novidades nas livrarias Cultura, Saraiva e Martins Fontes; mas também (penitencio-me pela falta de objetividade) nas centenas de sebos (alfarrabistas) de qualidade superior, onde se encontram livros com raras edições como as de Rubem Fonseca.

Uma olhada pelo site Estante Virtual pode mostrar deliciosas raridades que podem ser encomendadas e levantadas nessas antigas lojas onde descansam livros com alguma rodagem de existência em estantes.

Todas as semanas os principais jornais da cidade (Folha de São Paulo e Estado de São Paulo) publicam um guia cultural com mais de cem páginas: teatro, espetáculos, eventos gastronómicos, feiras, passeios, atividades lúdicas, workshops gratuitos, mostras de cinema, rodas de samba e chorinho, documentários, (estou quase sem fôlego, gente!) exposições, eventos, mostras, atividades temáticas.

Podemos ficar perdidos de tanta oferta, à qual tem grande “culpa” as associações profissionais, como o SENAC, que tem pólos espalhados pela cidade, promovendo uma série de atividades gratuitas a não sócios, e com excelentes mostras de teatro alternativo. Para ter uma ideia do que São Paulo oferece não precisa de ir muito longe para a seguinte equação: juntar boémia, bons restaurantes, arte, cultura, caminhada e experienciar o que é ser paulistano: Avenida Paulista.

Apesar de no centro estar o mítico cruzamento, imortalizado por Caetano Veloso na sua Sampa (“Algo acontece em meu coração / quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João”), o mesmo efeito dá-se quando galgo essa Paulista. Mas isto já era querer saber demais. Aguente-se na pole position. A próxima prosa está a sair do box, saímos só para mudar os pneus…

Guia de viagens a São Paulo

Este é um guia prático para viagens a São Paulo, com informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos turísticos, os melhores hotéis e sugestões de atividades na capital paulistana.

Localização geográfica

São Paulo é a maior metrópole brasileira, e uma das mais influentes no cenário internacional. Em suma, é um colosso de cidade: a Grande São Paulo tem 18 milhões de habitantes, a cidade tem 10 milhões – a população de Portugal. Está localizada no sudeste brasileiro, nas bordas da Serra do Mar, sobre o Trópico de Capricórnio. Limita-se ao norte com os municípios de Franco da Rocha, Mairiporã e Guarulhos; a leste com Guarulhos, Moji das Cruzes, Poá, Santo André, São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo; ao sul com Santo André, São Caetano do Sul, São Vicente e Itanhaém; a oeste com Itapecerica da Serra, Cotia, Barueri e Santana do Parnaíba.

Quando ir

Uma vez que esta é a cidade da cultura, da gastronomia, da balada e da vida a mil, não há época ideal para viajar para São Paulo, a não ser a sua agenda sincronizada com a disponibilidade. Ou então programe-se, de acordo com os eventos que lhe interessem (Bienal de Arte, São Paulo Fashion Week, por exemplo).

Ainda assim, há uma advertência: do fim de maio até julho São Paulo é uma cidade fria. Sim, fria: um sobretudo faz maravilhas, um cachecol também, mas não há nada que um tinto ou uma cachaça não resolvam. Um escondidinho de carne seca ou caldo de feijão também são amigos do friozinho.

Em geral, o clima de São Paulo é considerado subtropical, com diminuição de chuvas no inverno e temperatura média anual de 19,5°C. O verão tem temperaturas elevadas, por isso, a maioria dos prédios tem piscina para refrescar os mais calorentos. O mês mais quente é fevereiro, mês do Carnaval, com temperatura média de 22,5°C. Dito isto, outra advertência: São Paulo é uma cidade microclima – de manhã pode estar frio e à tarde o sol quente, a encher céu e pedir uma t-shirt malandra.

Como chegar a São Paulo

Há voos frequentes de Portugal para São Paulo. Dois aeroportos: Viracopos, em Campinas, a 40 km da cidade, com novas e boas infraestruturas; e Guarulhos, o famoso aeroporto internacional, a sensivelmente 13 km do centro de São Paulo. Anualmente há companhias aéreas que fazem promoções para São Paulo, como a TAP, que é uma das companhias aéreas com versão frequent-flyer para este destino. Há voos a sair do Porto e Lisboa. Mas também pode voar para São Paulo pela British Airways, a Alitalia, a Lufthansa, Air France, SwissAir, Iberia. Consulte o motor de pesquisa que lhe sugerimos.

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Onde ficar

O mais importante é perceber em que zona gostaria de ficar em São Paulo. Recomendamos Jardins, Paulista ou mesmo Itaim Bibi. Por serem regiões centrais, e com vida de bairro. Os hotéis do Grupo Accor, como o Ibis da Avenida Paulista, além de excelentemente bem localizado, inclui pequeno-almoço. Uma noite ronda os 90€, mas dá para negociar os dias. A rede Fórmula 1, espalhada por toda a cidade, tem tarifas a partir de 60€. O Nobile Paulista Prime tem uma boa relação preço-qualidade e está muito bem localizado.

Se quiser desfrutar do luxo de São Paulo, tanto o famoso e fashion Hotel Unique, na Avenida Brigadeiro Luís António, projetado pelo famoso arquiteto brasileiro Ruy Ohtake (mobiliário de design, camas queen-size e comodidades Bulgari, leitor de mp3, um jacuzzi privado e vistas panorâmicas sobre o Parque Ibirapuera), como o Hotel Emiliano (gastronomia de alto padrão, quartos espaçosos e cardápio de almofadas: penas de ganso, ou pato), fazem as delícias dos apreciadores do conceito lifestyle.

Há ainda um outro conceito muito usado em São Paulo: o de flat, o aparthotel por temporada (há quem alugue por semana), um conceito muito usado por executivos, de passagem por São Paulo, e que inclui serviço de lavandaria e a possibilidade de cozinhar. Alguns sites de pesquisa têm opções interessantes como o Vrbo ou Flat.

Por fim, para todos os bolsos pode consultar inúmeras opções de hotéis em São Paulo, com disponibilidade e promoções listadas abaixo.

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Gastronomia paulista

Comer não será um problema em São Paulo. A variedade deixa-nos zonzos, com tanta riqueza gastronómica, fruto do legado migratório. No fundo, São Paulo não tem um prato típico: tem vários, que se fizeram dessa miscelânea de comunidades. A cozinha italiana, por exemplo: das deliciosas, afamadas e diversificadas pizas com fio de azeite para completar, às pastas nas cantinas italianas. A Pizzaria do Brás é uma das mais conhecidas, com boa relação preço-qualidade.

A cozinha japonesa: Sushi para todos os gostos e a toda a hora. Para todos os gostos porque há-o mais tradicional, fiel, à raízes japoneses e os mais “abrasileirados” com sushi de manga e morango, por exemplo, numa versão mais tropicalizada. O sushi Lika no Bairro da Liberdade tem um temaki delicioso e pratos que não desiludem. Apesar de ser um pouco mais caro que os restaurantes mais minimalistas, um barco de madeira XL serve bem quatro pessoas. Imperdível o sakê nacional.

A cozinha das carnes: rodízios, feijoada e carnes grelhadas (na chapa) com aipim frito (mandioca frita) é manjar de deuses se acompanhado por uma cerveja geladinha, ou chope claro ou escuro. O Salvé Jorge no centro tem samba ao sábado à hora de almoço; se falhar tem sempre o de Vila Madalena, mas sem show ao vivo. Nessa linha, o Bar do Genésio, em Vila Madalena, é um clássico com frango na chapa, pastéis de carne e camarão e a deliciosa macaxeira. Como diz na sugestão do bar é ideal para o esquenta, a paquera, o bate-papo, happy hour

O Restaurante Athenas na Rua Augusta tem um excelente preço-qualidade, com um cardápio diversificado: desde comida vegetariana a carnes com molho madeira, sandes de tomate seco, rúcula, queijo cabra e molho pesto e um bom vinho para acompanhar.

Na linha pé-de-chinelo: os botecos da Rua Augusta como o BH, ou o Ministro em Jardins servem refeições económicas e “pratos feitos” (o prato do dia) variados: desde pernil a bife à parmeggiana com sucos de várias frutas na lista, sandes variadas e feijoada para o bom sustento, além da simpatia e bons amigos que por aqui sempre acontecem. Depois, o Mercadão, isto é, o Mercado de São Paulo, serve os famosos pastéis de camarão, queijo e carne e a mítica sanduíche de mortadela: costuma dizer-se que é mortadela com pão e está sempre animado: é a síntese da cidade.

Se estiver a pensar cozinhar para os amigos, uma dica: a zona cerealífera tem produtos gourmet e comuns muito mais baratos porque funciona como mercado abastecedor: queijos, frutos secos, cogumelos, vinhos, patés, etc.

Passeios em Sampa

Não faltam opções para dar um rolê pela cidade. Não falta, aliás, o que fazer em São Paulo. Desde caminhar no Parque Ibirapuera, a caminhar pela Avenida Paulista, vendo exposições ou assistindo a shows do SENAC, ITAÚ Cultural e Casa das Rosas. Antes, passar pelo Museu de Arte de São Paulo, o MASP.

Caminhe, ainda, pelo centro visitando a Sé e o Terraço Itália ou Banespa (e que vista sobre Sampa) e o Centro Cultural Banco do Brasil, bem como a Caixa Cultural que sempre têm exposições gratuitas interessantes.

Passe pelo Largo do Patriarcado, Praça São Bento e Viaduto do chá, dando um alô ao Theatro Municipal, em direção à Estação da Luz, onde está o belíssimo Museu da Língua Portuguesa, com vista para a Pinacoteca, que tem obras magníficas temporárias e permanentes como as esculturas de Rodin. O jardim da Pinacoteca sempre convida a caminhar, ou simplesmente repousar. Mais à frente, 700 metros, encontrará a imponente Sala São Paulo, que tem espetáculos maravilhosos de música clássica pela Orquestra de São Paulo.

Outra opção é alugar um carro e ir fazer um piquenique ao Parque da Cantareira, com vista para a cidade de São Paulo, ou se não quiser levar farnel, passeie por lá e almoce no Velhão um restaurante self-service que é um daqueles em que é você quem decide que não quer comer mais, com tradição mineira, instalado num antigo armazém de ferro-velho e com traços rústicos.

Ficando na cidade, e se gosta de graffiti, o Beco do Batman em Vila Madalena deixar-lhe-á um desafio: quanto tempo aguenta segurar o clique da máquina fotográfica?

O que comprar em São Paulo

– Livros de autores brasileiros nas imensas livrarias e alfarrabistas com verdadeiras raridades e pechinchas: como antologias de crônicas, contos, romances, de autores com o Rubem Fonseca, Milton Hatoum, Rachel de Queiroz, Hilda Hilst, Clarice Lispector, Raduan Nassar, Ferreira Gullar, Luís Fernando Veríssimo, João do Rio, Paulo Mendes Campos e tantos outros;
– CD’S de música brasileira e DVD’s de filmes nacionais com uma indústria pujante; e mesmo coletâneas de clássicos do cinema, geralmente muito baratos;
– Vá às feiras de velharias e em segunda-mão no Bairro do Bexiga e na Benedito Calixto ao fim de semana se é amante de vinil;
– Roupas exclusivas de designers: armazém da Benedito Calixto ao sábado e feira do Shopping da Paulista ao domingo, com dezenas de opções;
– Os famosos sapatos Melissa;
– Ir à Galeria Ouro Fino para roupa de autor e alternativa;
– Revistas brasileiras com bom humor e bom jornalismo como a revista TRIP;
– Tudo o que seja produtos de cosmética para cabelos, pés, mãos, rosto, maquilhagem é uma pechincha para elas: desde colagénio para cabelo, vernizes de todas as cores, batons de manteiga de cacau, cremes de cabelo karité – a maioria das drugstores tem várias opções;
– As imperdíveis havaianas na Loja das Havaianas na rua Oscar Freire;
– A rua 25 de Março, no centro, é conhecida por ser a rua dos tecidos; também das falsificações e das bugigangas. Se gosta de costurar vai ficar deliciada/o com a explosão de cor dos tecidos baratos.

Dinheiro

A moeda oficial é o real brasileiro. Há caixas eletrónicas em todas as esquinas, mas não são “multibancos”, porque cada banco tem a sua: não há comunicação a este nível interbancário, como em Portugal, embora haja algumas caixas, nomeadamente em shoppings onde poderá levantar dinheiro com cartões de redes internacionais como a Visa. Tome em atenção que depois das 22:00 já não consegue levantar dinheiro nos bancos.

Saúde

São Paulo é uma cidade de primeiro mundo em matéria de saúde. Tem excelentes hospitais (como o Hospital das Clínicas, público) laboratórios e especialidades. E uma farmácia em cada esquina, que assimilou mais o conceito de drugstore, com medicamentos avulso. Os hospitais públicos podem ser um pouco lentos na urgência, mas em geral atendem bem. Para estrangeiros basta mostrar o passaporte, não há burocracias além disso.

Dicas de viagem

Para cidadãos portugueses não é necessário visto de turista, com um limite de 3 meses, normalmente concedido pela Polícia Federal, prorrogável por mais 3 meses. Expirado esse prazo é aplicada uma multa, e saída obrigatória do país. Para demais cidadãos o melhor é informar-se devidamente na Embaixada do Brasil em Portugal, ou no Consulado do Brasil no Porto.

– Pode atrasar o relógio 4 horas. É como se ganhasse horas de vida, cruzando o Equador.
– Leve algum dinheiro consigo em reais para apanhar o táxi no aeroporto de Guarulhos: são cerca de 100 reais, cerca de 45 €, até ao centro da cidade. Apanhe o táxi com a empresa do aeroporto e já tenha o destino consigo e o bairro, pois pagará mediante a distância dali para o bairro para onde vai. A estimativa citada pressupõe que vai para a cidade de São Paulo: Jardins, Pinheiros, Vila Madalena, Paulista, Centro, Itaim Bibi, Vila Nova Conceição, Cerqueira César, Perdizes, Paraíso.
– Não ostente, mais vale prevenir do que remediar e relaxe: não há nada melhor do que desfrutar da cidade, sem estereótipos e medos. A cautela fará o resto;
– Viva São Paulo a mil, como ela merece, e desfrute…

O site oficial do Turismo de São Paulo oferece preciosa informação sobre as principais atrações turísticas da capital paulistana.

Seguro de viagem

A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.

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Vanessa Rodrigues