Tinha na cabeça imagens do teatro romano de Mérida, mas não sabia que o chamado Conjunto Arqueológico de Mérida era tão impressionante. Especialmente porque está no meio da cidade: caminha-se por uma rua “normal” do centro histórico e, de repente, dá-se de caras com um Templo de Diana. Literalmente! Pelo menos foi isso que me aconteceu quando visitei Mérida.
Não entrei em todos os monumentos classificados pela UNESCO, até porque não pernoitei na cidade e o tempo era escasso, mas é sobre alguns deles que hoje escrevo, com especial ênfase para o teatro e anfiteatro romanos de Mérida, provavelmente as mais emblemáticas ruínas romanas da cidade.
O Conjunto Arqueológico de Mérida
“A colónia de Augusta Emerita, que se tornou na atual cidade de Mérida, na Extremadura, foi fundada em 25 A.C.. As bem preservadas ruínas da cidade velha incluem uma grande ponte sobre o rio Guadiana, um anfiteatro, um teatro, um enorme circo e um sistema de abastecimento de água excecional. É um excelente exemplo de uma capital provincial durante o império Romano.” in UNESCO
Cheguei a Mérida já a tarde ia a meio. A luz começava a ficar tão quente como o bafo que abraça a cidade em pleno mês de agosto. Apesar disso, a vontade de explorar o riquíssimo património histórico de Mérida era muita. Estacionei no Paseo Roma, junto ao Rio Guadiana, e caminhei pela margem até à ponte romana.
Ponte romana sobre o Rio Guadiana
A ponte sobre o Guadiana é tida como uma das maiores pontes do Império Romano; e, de facto, impressiona. Percorri parte do seu longo e bonito tabuleiro (quase 800 metros de comprimento!), e a ponte pareceu-me razoavelmente bem conservada – ao que consta, fruto de um restauro levado a cabo no século XIX. Numa das extremidades, havia uma espécie de muralha defensiva, imponente, que chamava a atenção. Era a Alcáçova de Mérida, parte integrante do conjunto arqueológico da cidade.
Alcáçova de Mérida
Dirigi-me à bilheteira e comprei o bilhete combinado para ver as principais atrações Património Mundial. Locais como a ponte romana ou o templo de Diana são de circulação livre, mas outros há que requerem ingresso pago [ver guia prático, no final do post]; é o caso da Alcáçova. Entrei.
A Alcáçova de Mérida é descrita como “o único edifício muçulmano que se conservou até aos dias de hoje”, embora na verdade não se possa dizer que esteja bem conservada. Consta que terá servido para proteger os governantes e seus súbditos das revoltas dos emeritenses, além de controlar a passagem através da ponte sobre o Guadiana. Fui explorar.
Havia muitas ruínas de difícil interpretação. Mas gostei particularmente de caminhar no topo da muralha defensiva. A vista sobre as margens do rio e a zona envolvente era inspiradora, e só por isso já teria valido a pena visitar o interior da Alcáçova.
Templo de Diana
À saída da Alcáçova, segui pela Calle Romero Leal por indicação de uma transeunte a quem perguntei o caminho para o teatro e anfiteatro romanos. Fui andando, calmamente, por entre alguns turistas e domingueiros, até que dei de caras com o Templo de Diana, “o único exemplar da arquitetura religiosa romana que tem perdurado em Mérida em aceitável estado de conservação”.
O templo é um dos edifícios romanos mais antigos da cidade mas o que achei mais curioso foi o facto de estar ali, integrado numa das principais ruas pedonais do centro histórico de Mérida, rodeado por casas de habitação. Passado e presente em perfeita harmonia? Ou meio caminho para a destruição do património? Talvez a primeira…
Prossegui pelo casco viejo, passei pelo Museu Nacional de Arte Romana sem nele entrar e, logo a seguir, cheguei ao objetivo principal do dia: o complexo do teatro e anfiteatro de Mérida.
Anfiteatro romano de Mérida
Caminhei num pequeno trilho que desembocava a meio de uma das bancadas do anfiteatro romano. É um recinto em forma de elipse, totalmente rodeado de bancadas. No centro, uma arena (sim, dessas arenas!).
“No anfiteatro realizavam-se jogos de gladiadores e lutas entre animais ou entre homens e animais – venationes – que, em conjunto com as atuações do circo, eram as preferidas pelo público.”, in livro oficial de Mérida – Património da Humanidade
Circundei uma das bancadas laterais, saí do anfiteatro para, logo a seguir, encontrar uma entrada de acesso à zona da arena, lá em baixo. Havia alguns turistas, mas não em demasia.
No centro da arena, quase podia imaginar leões e gladiadores a lutarem pela vida; o burburinho das bancadas; a adrenalina na face de todos, a morte.
Embora sem a riqueza arquitetónica do teatro romano (que haveria de visitar logo a seguir), achei o anfiteatro verdadeiramente impressionante. Para mim, foi o momento alto da visita a Mérida.
Teatro romano
Apesar de monumentos completamente distintos, o anfiteatro e o teatro romanos estão edificados lado a lado. Saí do anfiteatro e a azáfama tornou-se visível em torno do teatro: estavam a montar um espetáculo para essa noite dentro do recinto.
A fachada do monumento estava tapada com cabos, luzes, estruturas de metal e grandes contentores. No espaço interior, a boca de cena estava cheia de elementos do cenário e artefactos tecnológicos que não permitiam observar convenientemente aquela maravilha romana. Salvava-se a meia-lua de bancadas, onde dava para perceber, nitidamente, pedaços da história contados através das pedras de várias épocas que compunham a escadaria.
Foi, por isso, uma desilusão. Tive pena, porque a boca de cena do teatro é verdadeiramente espetacular; merecia ser admirada em melhores condições.
Dito isto, acho extraordinário que a cidade utilize o teatro romano para espetáculos contemporâneos. As ruínas deixam de ser apenas isso, ruínas. Pena ter sido no dia em que as visitei.
É certo que faltou ver muito do património que consta do Conjunto Arqueológico de Mérida. Se tivesse mais tempo, teria pelo menos visitado o Circo, o Aqueduto de Los Milagros, e quem sabe o Museu Nacional de Arte Romana. A viagem teria sido mais rica mas, ainda assim, saio satisfeito. Valeu a pena o bate-volta a Mérida desde Cáceres! O património histórico da cidade é verdadeiramente impressionante.
Mapa com o património a visitar em Mérida
Guia para visitar Mérida
Como chegar
Vindo de Badajoz ou de Cáceres, a estrada de acesso à cidade de Mérida é boa e bem sinalizada. Se não dispõe de transporte próprio, veja os horários da companhia Auto-Res, do grupo espanhol Avanza.
Ingresso nos monumentos romanos
As entradas nos monumentos custam 6€ por atração (12€ no caso combinado do teatro e anfiteatro romanos de Mérida), mas o Turismo de Mérida tem à disposição dos viajantes um bilhete combinado que dá acesso aos seis monumentos romanos de Mérida, ao preço de 15€. Ou seja, se quiser ver algum monumento para além dos obrigatórios teatro e anfiteatro, o bilhete combinado já compensa.
- Teatro e anfiteatro romanos
- Alcáçova de Mérida
- Cripta de Santa Eulália
- Casa do Mitreo e Columbários
- Circo
- Zona arqueológica da Morería
Onde dormir
Nesta visita à Extremadura, optei por ficar hospedado na cidade de Cáceres durante todo o tempo, fazendo passeios a Trujillo, Monfrague e Mérida a partir de lá (os chamados bate-volta, para os amigos brasileiros). Ainda assim, reconheço que o centro histórico de Mérida pode ser uma opção interessante, especialmente se ficar em hotéis muito elogiados como os que aqui sugiro:
- Las Abadías
- Hotel Ilunion Mérida Palace
- Hotel Vettonia
- Hostal Emeritae
- Apartamento Turístico Casa Museo
Seguro de viagem
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Caro Filipe,
Parabéns pelo relato. O ingresso que dá acesso a todos os monumentos foi comprado online ou no local? Grata!