Parti para a minha recente viagem de 8 dias à Andaluzia com algumas imagens na cabeça, que me impeliam a conhecer lugares concretos. A imponente ponte de Ronda; a Mesquita-Catedral de Córdoba; os palácios de Alhambra (onde já tinha estado há quase 20 anos); e um conjunto de vilarejos comummente designados por Pueblos Blancos.
Neste post, partilho precisamente a minha viagem pelos Pueblos Blancos de Espanha, com início em Arcos de la Frontera, passagem por Grazalema, Zahara de la Sierra e Setenil de las Bodegas, e término em Ronda. Todas ficam na província de Cádiz, com exceção de Ronda, localizada já no perímetro territorial da província de Málaga.
Note que nem todas as localidades são pequenas aldeias e que não existe uma rota dos Pueblos Blancos oficial, com princípio, meio e fim; há, isso sim, um conjunto de vilarejos que encaixa nessa designação e que podem ser visitados por qualquer ordem. O roteiro fica, pois, ao critério do viajante. Este foi o meu.
Pueblos Blancos da Andaluzia
Arcos de la Frontera
Para quem vem de Sevilha, e não de Cádiz, Arcos de la Frontera marca, por assim dizer, o início de uma possível rota pelos Pueblos Blancos da Andaluzia. Para mim, juntamente com Grazalema, foi um dos povoados com que mais simpatizei.
Durante a minha visita a Arcos de La Frontera, conheci a Basílica de Santa Maria, localizada na icónica Praça do Cabildo; maravilhei-me com a luz matinal no Miradouro de Abades; entrei na Igreja de São Pedro e surpreendi-me com o presépio do Museu de Belém. Não menos importante, comi muito bem nos bares de tapas do povoado. Foi o início perfeito para a rota dos Pueblos Blancos.
El Bosque
De El Bosque tenho pouco a dizer. Passei no centro histórico para um vislumbre mas não me despertou tanto interesse. Estava a chover e não parei. Como o tempo não dava para visitar todos os Pueblos Blancos, segui viagem em direção à mais espetacular Grazalema.
Grazalema
A próxima paragem foi Grazalema. Tal como vários Pueblos Blancos – como El Bosque, Benamahoma, Ubrique e Zahara de la Sierra -, a aldeia fica no interior do Parque Natural da Serra de Grazalema. Cheguei sem grandes expectativas e saí maravilhado.
Desde logo, pelo impacto visual da chegada. Grazalema está aninhada num vale, abraçada pelas montanhas envolventes. O branco das paredes e o laranja das telhas no meio do verde das árvores e do cinza granítico, coberto por um céu alternando entre o azul vivo e o branco molhado. Lindo!
Estacionei o carro à entrada da povoação e, num ápice, dei por mim a percorrer as ruelas tingidas de cal até à Igreja de São José, na outra extremidade da aldeia, que estava fechada. Curiosamente, tal como acontecera em Arcos de la Frontera, cruzei-me com alguns turistas chineses (desconhecia que já andavam a explorar estas paragens menos citadinas).
Apesar da visita ter sido curta, Grazalema rapidamente se tornou num dos meus Pueblos Blancos favoritos.
Não fiquei a dormir em Grazalema, para com isso sentir melhor a aldeia após a debandada dos visitantes, como fizera em Arcos de la Frontera. Ainda pensei, isso sim, em almoçar em Grazalema; mas entretanto um grupo numeroso tomou conta das esplanadas da aldeia e acabei por prosseguir para Zahara de la Sierra. Mais uma bela aldeia branca!
Zahara de la Sierra
Cheguei com grandes expectativas fruto de algumas recomendações locais, mas acabei por não me apaixonar por Zahara de la Sierra. Não tenho muito a dizer sobre a aldeia. É certo que tem um castelo a clamar por ser conquistado, mas a preguiça desta vez venceu e, depois de um almoço tardio, a vontade de subir dezenas de escadas debaixo do calor andaluz não era muita.
Se o tivesse feito, talvez tivesse ficado com uma impressão mais positiva de Zahara de la Sierra; assim, Zahara não me convenceu.
Os próximos objetivos eram visitar Setenil de las Bodegas e ainda chegar com boa luz a Ronda, pelo que vi Olvera apenas de passagem.
Olvera
À distância, Olvera pareceu-me uma aldeia encantadora, com o seu castelo altaneiro a dominar por completo a paisagem urbana. Infelizmente, era preciso fazer opções e, como queria visitar mais demoradamente Setenil de las Bodegas e ainda chegar a Ronda a tempo do pôr-do-sol, acabei por não parar em Olvera. Caso divida esta rota em duas etapas, fica a sugestão.
Setenil de las Bodegas
Fui para Setenil de las Bodegas com a imagem das casas encaixadas nas rochas na cabeça e, nesse aspeto, não desiludiu. Infelizmente, quando lá cheguei uma chuvada abateu-se sobre o povoado, pelo que não usufrui da melhor forma.
Seja como for, Setenil de las Bodegas é um vilarejo deveras original. As casas construídas literalmente debaixo das escarpas causam um misto de arrepio, incredulidade e fascínio. Como é possível terem construído as casas naquele local? Sentado numa daquelas esplanadas, não é difícil imaginar que o “céu” de pedra possa um dia cair nas cabeças de locais e turistas…
Ronda
Ronda – que dizer de Ronda?! Depois de ter visto muitas fotografias da chamada Ponte Nova, sabia exatamente o que queria: encontrar um ponto de observação perfeito, com boa luz, para fotografar a ponte. A tarde estava prestes a terminar, pelo que não havia tempo a perder. Bastava que o sol aparecesse entre as nuvens antes de desaparecer no horizonte. Havia esperança – pouca, mas havia.
Assim que cheguei ao alojamento, indaguei junto da anfitriã onde poderia ter essa visão mágica da ponte. Ela indicou no mapa um possível lugar e, num ápice, estava no carro a caminho de uma pequena estrada de terra e cascalho nos arrabaldes de Ronda.
Cheguei a tempo, mas o sol não colaborou. Ainda assim, a visão imponente da ponte de Ronda sobre o Rio Guadalevín, com o casario a desafiar a imensidão da escarpa, era avassaladora. Mesmo não tendo a desejada fotografia, tinha valido a pena. Era tempo de descansar e de um jantar caseiro. As restantes descobertas ficariam para o dia seguinte.
Com entrada no Caminito del Rey marcada para o meio da tarde, tive ainda tempo de explorar a cidade. Voltei à ponte, fiz o passadiço até ao Miradouro de Ronda, contemplei a monstruosidade da paisagem. Não com a calma que eu gostaria, mas foi o suficiente para ficar rendido a Ronda. Wow!
Era o final do meu roteiro pelos Pueblos Blancos da Andaluzia.
Mapa com a rota dos Pueblos Blancos (Espanha)
Como seguramente deu para perceber, os Pueblos Blancos de que mais gostei foram Arcos de la Frontera, Grazalema, Setenil de las Bodegas e, claro está, Ronda (apesar de menos “branco”). Eis o meu roteiro.
O percurso marcado no mapa tem apenas 130km; mas boa parte é em estradas de montanha, onde a velocidade de circulação é reduzida. Se sair demasiado tarde de Arcos de la Frontera, pode encurtar a viagem indo diretamente de Grazalema para Ronda. Nesse caso, tente visitar Setenil de las Bodegas no dia seguinte, num bate-volta a partir de Ronda.
Dicas para a rota dos Pueblos Blancos
Quando visitar os Pueblos Blancos
Embora teoricamente seja possível visitar as aldeias brancas em qualquer altura do ano, eu recomendo que o faça durante a primavera ou o outono por forma a evitar as temperaturas mais extremas da Andaluzia.
Transportes
A única forma de fazer este percurso é de carro (não há autocarros que permitam fazer este itinerário). De Portugal, a opção mais rápida é voar para Sevilha ou Málaga e depois alugar um carro (eu uso a Discovercars); mas pode também seguir em carro próprio até à Andaluzia. Foi o que eu fiz e, como éramos um grupo de cinco pessoas, acabámos por dividir o tempo de condução e a viagem fez-se tranquilamente.
Onde ficar
Em Arcos de la Frontera
No início da rota, eu fiquei hospedado na Casa Campana, uma pequena pousada gerida por um casal hispano-britânico, e só tenho a dizer coisas boas. Caso esteja lotada, outro alojamento que me pareceu excelente (para o meu gosto) é a belíssima bed & breakfast Casa El Sueño. Se preferir uma opção mais clássica, o Hotel Los Olivos pode também ser uma boa escolha.
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Em Ronda
No final, escolhi um apartamento maravilhoso para pernoitar em Ronda, chamado Casa del Guardés del Molino de Alarcón (recomendado para um grupo de quatro ou cinco pessoas). Para opções mais convencionais, o imponente Catalonia Ronda é o hotel mais popular da cidade; e o Hotel San Francisco, muito agradável mas mais modesto, tem excelente relação qualidade/preço.
Caso esteja disposto a pagar por algum luxo, veja o extraordinário La Fuente de la Higuera, localizado fora da cidade. Se procura tranquilidade e conforto (e está disposto a pagar por isso), não hesite.
Se optar por dividir a jornada em duas, acredito que Grazalema seja o melhor local para pernoitar. Nesse caso, as pousadas Casa de las Piedras e Puerta de la Villa, ambas simples mas acolhedoras, são opções honestas e pouco dispendiosas que vale a pena conferir.
Seguro de viagem
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