Que boa surpresa, o Corvo! Uma ilha minúscula, é certo, mas muito bonita, com alma e um povo incrivelmente solícito e hospitaleiro. Daqueles lugares onde as chaves ainda ficam na porta de casa e as pessoas se cumprimentam constantemente.
Infelizmente, a maioria dos visitantes chega à ilha do Corvo vinda da vizinha ilha das Flores, ambas localizadas no Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, para um passeio de apenas algumas horas. É uma opção que permite visitar o Caldeirão e deliciar-se com a paisagem (assim o nevoeiro permita), calcorrear meio trilho e espreitar a Vila do Corvo. Mas pouco mais.
Não permite, de todo, conhecer e sentir e viver o Corvo, privar com os seus habitantes, passear com tranquilidade e desfrutar calmamente da beleza ímpar da mais pequena ilha dos Açores. Por tudo isso, acho que a ilha do Corvo merece mais tempo. Que pernoite um par de dias. Ou mais.
Pela minha parte, já tinha visitado o arquipélago dos Açores várias vezes (a última viagem foi antes da pandemia, à ilha de São Jorge), mas nunca tinha estado nem no Corvo nem nas Flores. Decidi, por isso, dividir os dez dias de férias de verão familiares pelas duas ilhas, para finalmente as visitar com calma.
Neste artigo, partilho então a minha experiência de viagem à ilha do Corvo, em família, com referências às principais atrações turísticas que conheci – incluindo toda a Vila do Corvo, o Caldeirão, percursos pedestres e, claro, muitas dicas sobre transportes, onde comer e dormir. Eis, pois, o que fazer na ilha do Corvo numa estada de dois ou três dias (seis noites, como eu fiquei, será provavelmente demasiado tempo para a maioria das pessoas). Vamos a isso.
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O que fazer no Corvo (a minha experiência)
- 1.1 Visitar a Vila do Corvo
- 1.2 Visitar o Caldeirão…
- 1.3 … e fazer o Trilho do Caldeirão (PR2 COR)
- 1.4 Fazer o Trilho da Cara do Índio (PR1 COR)
- 1.5 Conhecer os moinhos de vento
- 1.6 Visitar a Casa do Tempo – Ecomuseu do Corvo…
- 1.7 … e o Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo
- 1.8 Dar um mergulho na Praia da Areia (ou no cais)
- 2 Mapa dos lugares a visitar no Corvo
- 3 Festas da Nossa Senhora dos Milagres
- 4 Guia prático para visitar o Corvo
O que fazer no Corvo (a minha experiência)
Antes de mais, convém dizer que o Corvo não tem muitas atrações turísticas. A exceção é a caldeira, conhecida por Caldeirão, um local de grande beleza que domina totalmente a paisagem da ilha. Tirando isso, uma das coisas mais prazeirosas do Corvo é mesmo deixar-se abraçar pela hospitalidade dos corvinos, um povo que vive na mais pequena e remota das ilhas açorianas e sabe, por isso mesmo, o quão importante é esse sentimento de comunidade.
Dito isto, há dois pequenos museus e dois trilhos que valem a pena incluir num eventual roteiro para uma escapadinha à ilha do Corvo. São estas as minhas sugestões sobre o que fazer no Corvo.
Visitar a Vila do Corvo
A Vila do Corvo é o único povoado da ilha e, se é certo que ninguém vai visitar o Corvo para conhecer a vila, não é menos verdade que a povoação tem alguns motivos de interesse que justificam o tempo do visitante.
Desde logo, a Vila do Corvo é a alma da ilha. É um daqueles lugares para ir ficando, sem pressas; onde as conversas fluem entre umas lapas grelhadas e duas cervejas geladas; onde os vizinhos se conhecem todos e, não menos relevante, o visitante é bem recebido. No Corvo, senti-me em casa.
Mas não é tudo. Há lugares que recomendo nesta lista com o que fazer no Corvo que ficam, precisamente, na vila. Como os moinhos de vento, a Casa do Tempo ou o Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo. Falo deles mais abaixo.
Tudo somado, eis a minha sugestão: corra para o Caldeirão mas não ignore a Vila do Corvo durante a sua visita à ilha. Eu, pelo menos, gostei muito.
Visitar o Caldeirão…
Ex-líbris maior da ilha do Corvo, o Caldeirão é local de visita obrigatória e a principal atração turística da ilha. É lindo!
“O Caldeirão corresponde a uma caldeira de colapso, com 2,3 x 1,9 km de dimensão e uma profundidade máxima da ordem de 305 metros, implantada no topo do vulcão central da ilha do Corvo. Esta depressão vulcânica é ocupada por uma lagoa, com uma profundidade máxima de 2 metros, e por alguns cones vulcânicos de pequena dimensão (cones de escórias e de salpicos de lava, ou spatter) – que, segundo a cultura açoriana, representam as nove ilhas dos Açores. […]
A parte mais oriental do bordo original da caldeira não existe atualmente, tendo sido desmantelado pela intensa erosão marinha que afeta todo este flanco do edifício vulcânico. Este pitoresco geossítio é um local prioritário para as estratégias de geoconservação do Geoparque Açores e apresenta relevância nacional e interesse científico, pedagógico e geoturístico.”
in site oficial do Geoparque Açores
Estando vários dias no Corvo, tive a possibilidade de escolher um dia com condições climáticas perfeitas (sem as nuvens que muitas vezes cobrem o cone vulcânico e cortam totalmente a visibilidade), não apenas para ver a caldeira do seu topo mas, principalmente, para descer à sua base e percorrer a pé o chamado Trilho do Caldeirão.
… e fazer o Trilho do Caldeirão (PR2 COR)
Melhor do que ver a caldeira do seu topo é mesmo caminhar ao longo do Trilho do Caldeirão, um percurso de 4,8 km que começa no miradouro, desce até ao interior da caldeira e a circunda, antes de voltar a subir rumo ao miradouro. Vale bem a pena, especialmente em dias de bom tempo (e pouco nevoeiro).
A paisagem é arrebatadora. Lagoas, hortências (também conhecidas como hidranjas), vacas a pastar e muito verde a toda a volta tornam o passeio visualmente muito agradável. É, para mim, uma atividade fundamental a fazer no Corvo!
Eu levei o meu filho de seis anos e ele aguentou sem problemas.
Se não tiver carro alugado, pode arranjar quem o leve à caldeira e, uma vez lá, pode fazer o Trilho do Caldeirão (PR2 COR) seguido do Trilho da Cara do Índio (PR1 COR) até à Vila do Corvo. Veja em “Transportes no Corvo”, no final do artigo.
Fazer o Trilho da Cara do Índio (PR1 COR)
Sublime! – assim classificaria o Trilho da Cara do Índio. Ou, pelo menos, a segunda metade do percurso, a partir do momento em que o trilho se afasta da alcatroada estrada do Caldeirão.
Foi essa parte do Trilho da Cara do Índio que eu decidi fazer, acompanhado pela família, incluindo o meu filho de seis anos. O percurso é quase todo a descer, passa entre campos murados e caminhos de hortênsias, e oferece paisagens muito bonitas, tendo o mar como pano de fundo e passagem por miradouros como o da Cara do Índio e um outro, já perto da Vila do Corvo, com vistas desafogadas sobre o povoado.
Em poucas palavras, é um passeio maravilhoso! Assim as condições climáticas colaborem…
Caso não queira fazer a parte do Trilho da Cara do Índio ao longo da estrada do Caldeirão, recomendo que arranje um transporte até ao ponto em que o trilho se desvia da estrada (ver localização no Google Maps) e comece a descida a partir desse ponto.
Conhecer os moinhos de vento
De regresso à Vila do Corvo, mesmo junto ao aeroporto há um conjunto de moinhos muito fotogénicos que vale a pena conhecer. Tinha lido algures que era possível visitar os moinhos por dentro mas, durante os dias em que estive na ilha, nunca os apanhei abertos. E passei muitas vezes por eles, a caminho da praia da Areia…
Seja como for, nem que seja por fora, é algo a que vale a pena dar atenção – até porque existem placas explicativas junto a cada um deles, que permitem perceber melhor para que serviam e o modo de funcionamento.
Visitar a Casa do Tempo – Ecomuseu do Corvo…
Não menos relevante, o Ecomuseu do Corvo é um pequeno projeto museológico pouco convencional, que visa “a salvaguarda e a afirmação do património corvino” e, em última análise, “a promoção do progresso local e a qualidade de vida da população”.
Lá dentro, é possível a visualização de centenas de fotografias antigas do quotidiano da ilha, bem como de pequenos relatos de habitantes do Corvo, registados em vídeo, sobre aspetos culturais – como as habitações tradicionais da ilha ou a produção do queijo do Corvo. Simples e bem feito.
Na minha opinião, vale bem a visita. Gostei muito.
A entrada no Ecomuseu do Corvo é gratuita.
… e o Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo
Outro pequeno museu que vale a pena visitar na Vila do Corvo é o Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo. A esse respeito, convém aliás saber que os Açores possuem três reservas da Biosfera reconhecidas pela UNESCO. Ou seja, “áreas de ecossistemas (terrestres ou costeiros) que promovem soluções para conciliar a preservação da biodiversidade e o seu uso sustentável”. São elas as ilhas da Graciosa, das Flores e, naturalmente, do Corvo.
O Centro de Interpretação de Aves Selvagens do Corvo é a primeira paragem obrigatória para aqueles que querem conhecer o Parque Natural e a Reserva da Biosfera da Ilha do Corvo.
Aqui é possível explorar a temática das aves selvagens que ocorrem no Arquipélago, bem como a prática de observação de aves, atividade de turismo que distingue o Corvo como um local de elevada importância no contexto do Birdwatching internacional.
No espaço expositivo, os visitantes têm acesso a vários equipamentos multimédia com conteúdos alusivos ao Parque Natural e à avifauna dos Açores, nomeadamente um painel de avistamentos, um holograma e, ainda, um livro ilustrativo das aves invernantes, migratórias, nidificantes e acidentais observáveis na ilha.
Têm ainda a possibilidade de “viajar” pela mais pequena ilha dos Açores através de uma experiência de realidade virtual, que permite uma melhor compreensão da interação entre o Homem e o ambiente.
O Centro integra, também, a última atafona do Corvo, edifício onde, até início da década de 60, se realizava o principal processo de farinação da ilha.
in site oficial dos Parques Naturais dos Açores
É isso. Não deixe de o incluir no seu roteiro no Corvo.
Dar um mergulho na Praia da Areia (ou no cais)
A Praia da Areia é, sem qualquer dúvida, o melhor lugar para ir nadar nas águas do Atlântico; especialmente para quem viaja com crianças. A praia tem areia preta e, apesar de não ser muito grande, dificilmente está completamente lotada.
Nos dias em que estive a visitar o Corvo a presença de caravelas-portuguesas na Praia da Areia foi uma constante. Felizmente, chegou a acontecer a praia estar infestada de caravelas-portuguesas de manhã e completamente livre delas durante a tarde, pelo que terá de monitorizar a situação in loco (ou perguntar aos corvinos) e ajustar o roteiro em função disso.
Quando o calor aperta – ou depois de fazer um trilho! -, não há melhor forma de relaxar. Aproveite.
Alternativamente, junto ao cais onde atracam os barcos Flores – Corvo nunca encontrei caravelas-portuguesas, tendo sido sempre um lugar seguro para nadar. Pelo menos para adolescentes e adultos, dado não haver pé (não é muito aconselhável para crianças pequenas).
Mapa dos lugares a visitar no Corvo
Como vê, apesar da sua reduzida dimensão, não falta o que fazer no Corvo para uma estada de dois ou três dias. Fique a dormir e, quem sabe, não acaba enfeitiçado pela ilha.
Festas da Nossa Senhora dos Milagres
Caso decida visitar a ilha do Corvo em meados de agosto, pondere ficar na Vila do Corvo por volta do dia 15, altura em que decorrem as Festas da Nossa Senhora dos Milagres. Há arraial com músicos, comes e bebes e muito convívio; cerimónias religiosas que incluem uma pequena procissão por ruas decoradas com flores (na verdade já não se usam pétalas de flores); um leilão de víveres para ajudar a financiar a festa; e um fogo de artifício despretensioso para terminar as celebrações.
Vá sem expectativas e seguramente vai simpatizar com o ambiente de comunidade entre corvinos e visitantes.
Guia prático para visitar o Corvo
Como chegar à ilha do Corvo
De avião
Como queria visitar as duas ilhas, procurei um voo open jaw, com ida para uma das ilhas e regresso pela outra. Se não encontrasse boas ligações, teria provavelmente optado por voar para as Flores; mas, com alguma persistência e dois meses de antecedência, felizmente consegui encontrar voos baratos.
Eu paguei 125€ por pessoa para um bilhete ida e volta da Azores Airlines (SATA), com ida Porto – Corvo e regresso Flores – Porto, em pleno mês de agosto (com uma curta escala em Ponta Delgada em ambos os sentidos). Como o preço era muito bom e as ligações excelentes, nem tentei usufruir do encaminhamento gratuito inter-ilhas nos Açores; mas aconselho vivamente que estude essa possibilidade.
De barco, a partir das Flores
A Atlantico Line é a empresa que faz a ligação de barco entre as ilhas dos Açores. No caso da viagem entre as Flores e o Corvo, a travessia demora cerca de 40 minutos e é feita a bordo da pequena embarcação Ariel, com capacidade para apenas 12 passageiros. O bilhete custa 10€ por adulto e 5€ para crianças até aos 12 anos de idade, e pode ser comprado antecipadamente na Atlântico Line (encontra os horários no site).
Passeio com agência, a partir das Flores
Alternativamente, existem agências que fazem o transporte de turistas entre as ilhas das Flores e do Corvo, em barcos semi-rígidos. Os passeios normalmente contemplam visitas às grutas da costa das Flores, cerca de quatro horas para explorar a ilha livremente, e a viagem de regresso ao Corvo.
Entre as empresas que organizam o transporte, a mais conhecida é provavelmente a Extremocidente, do Carlos Mendes, sendo possível reservar também o transporte até ao Caldeirão, almoço e/ou um guia. Dito isto, conheço quem tenha feito a viagem com o Cristino Serpa e tenha gostado. Por fim, a Experience OC também organiza passeios ao Corvo, e pareceram-me extremamente profissionais (fiz um passeio com eles quando visitei as Flores). O preço ronda os 35€ por pessoa.
DICA: Os leitores do Alma de Viajante têm 10% de desconto em todas as atividades com guia reservadas diretamente no site da Experience OC. Basta usar o código de desconto “almadeviajante2022” antes de efetuar o pagamento. Aproveite!
Vale a pena ficar a dormir no Corvo?
Eu diria que sim. Apesar de não ser uma ilha tão exuberante e diversificada como a sua vizinha ilha das Flores, a verdade é que visitar o Corvo é como visitar uma pequena aldeia de Portugal Continental. Mesmo sem grandes atrações turísticas além do Caldeirão – que é incrível e por si só justifica a visita à ilha -, os corvinos são um povo muito amável e hospitaleiro, facto que torna a estada bem agradável.
Em suma, para aqueles que, como eu, gostam de lugares pequenos e de viajar devagar, vale a pena dormir no Corvo. Para quem tem pouco tempo ou prefere saltar de atração turística em atração turística, talvez um passeio de meio dia a partir das Flores seja suficiente.
Transportes na ilha do Corvo
Caso precise de transportes no Corvo, nomeadamente para visitar a caldeira, contacte o Fernando Câmara da empresa Corvo Tours pelo telefone 912635318. Ele tem uma carrinha de nove lugares e é uma pessoa prestável e de confiança.
Na minha opinião, não vale a pena alugar carro no Corvo. Mas, caso queira saber mais sobre o aluguer de carros nos Açores, veja este artigo.
Onde ficar
Caso queira a ficar a dormir no Corvo, saiba que a oferta de alojamento na ilha é extremamente reduzida. Em concreto, a melhor opção é a simpática guesthouse Joe & Vera’s Vintage Place, bem no coração da Vila do Corvo. Um pouco mais afastada, mas ainda assim bem localizada nos arredores da vila, a Guesthouse Comodoro oferece instalações agradáveis a um preço aceitável.
Reserve com a máxima antecedência possível, especialmente nos meses de verão e outros períodos de férias. Para ver outras alternativas de alojamento no Corvo que possam, entretanto, ter surgido na ilha, pesquise diretamente no link abaixo.
Pesquisar hotéis na ilha do Corvo
Gastronomia e onde comer
Não há muitos restaurantes no Corvo, e os que há não são entusiasmantes. Da minha experiência, merecem referência o restaurante Caldeirão, junto à pista do aeroporto (comida aceitável mas demasiado caro) e o BBC Caffé & Lounge (animado nas noites de verão; servem pratos como hambúrgueres, bifanas e francesinhas, mas a comida não é extraordinária). Ficam ambos na Vila do Corvo.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.