Soajo, amigo velho, que posso eu dizer-te após tantos anos sem te visitar? Como justificar ausência tão prolongada e a injustiça tremenda de não nos encontrarmos mais vezes? Não sei dizer…
Mas lembro-me bem das coisas simples, aquelas que ficaram desde os tempos da adolescência a acampar na região. As idas matinais à padaria; o cheiro a bagaço que voava das chávenas de café dos adultos; o campismo em Travanca e os mergulhos nas águas geladas das Lagoas de Travanca; as caminhadas guiadas por cartas militares na Serra do Soajo; os javalis que costumavam andar pela Porta do Mezio; as brincadeiras juvenis nos espigueiros do Soajo; a drogaria junto ao pelourinho; as idas ao Santuário de Nossa Senhora da Peneda, a Lindoso, aos caramelos de Arcos de Valdevez e até à vizinha Espanha.
São todas essas memórias que decidi agora resgatar, voltando ao Soajo e ao calor das suas gentes. Eis, pois, uma pequena lista com o que fazer no Soajo, uma pequena vila no concelho de Arcos de Valdevez. Inclui espigueiros, miradouros, lagoas, mosteiros, caminhadas, boa comida e muito mais. Vamos a isso!
-
1
O que ver e fazer no Soajo
- 1.1 Explorar a vila do Soajo (com calma)
- 1.2 Pelourinho do Soajo
- 1.3 Espigueiros do Soajo
- 1.4 Visitar o Centro Interpretativo e Etnográfico do Soajo
- 1.5 Porta do Mezio
- 1.6 Lagoas de Travanca
- 1.7 Ponte da Ladeira
- 1.8 Poço Negro
- 1.9 Cascatas do Poço Bento
- 1.10 Miradouro Meandros do Lima
- 1.11 Lindoso
- 1.12 Miradouro de Várzea
- 1.13 Trilho Caminhos do Pão, Caminhos da Fé (PR7 AVV)
- 1.14 Mosteiro de Ermelo
- 2 Outras atividades para fazer no Soajo
- 3 Mapa com as principais atrações do Soajo
- 4 Guia prático
O que ver e fazer no Soajo
Explorar a vila do Soajo (com calma)
Não demorou muito para redescobrir o prazer das pequenas coisas na vila do Soajo. A autenticidade. O tal calor humano. A vida de aldeia.
Na verdade, bastou acordar e ouvir a voz afinada de Teresa Júlia, uma jovem de 80 anos que, de manhã cedo, cantarolava alto e em verso, de enxada na mão, enquanto cavava a sua horta bem diante da janela da simpática casa de turismo rural onde me hospedei. O dia mal tinha começado e já estava ganho.
Só depois comecei a percorrer as ruelas estreitas, tomei o pequeno-almoço na padaria, provei o pão-de-ló do Soajo e fui explorando os recantos da pequena vila, constatando sem esforço que o Soajo tem sabido adaptar-se aos novos tempos – com a criação de alojamentos locais em casas anteriormente fechadas ou devolutas – sem se tornar num museu ao ar livre desprovido de alma e vida.
Até que cheguei ao Largo do Eiró, a praça principal do Soajo, e dei de caras com outros dois velhos amigos. Uma drogaria cujas memórias saltaram do baú assim que avistei os potes de ferro de três pernas colocados à sua porta; e o velho pelourinho da vila.
Pelourinho do Soajo
Localizado no Largo do Eiró, o pelourinho do Soajo é uma das mais emblemáticas construções da vila. Não há, na verdade, muito a dizer sobre o pelourinho, até porque faltam documentos que permitam datá-lo ou explicar com certezas a sua forma.
Mas trata-se de “um esteio decorado com uma carranca sorridente”, encimada por uma laje triangular que em tudo se assemelha ao tricórnio que usei enquanto estudante da Universidade do Minho. Localmente, há quem diga que se trata da representação de “um pão a esfriar na ponta de uma lança”, embora não tenha tido imaginação suficiente para acompanhar a teoria olhando para o pelourinho.
Seja como for, está classificado como Monumento Nacional desde 1910 – e eu, pessoalmente, gosto muito da simplicidade austera do pelourinho. A visitar, portanto!
Espigueiros do Soajo
Localizados no topo de um altaneiro afloramento granítico, os espigueiros do Soajo integram uma eira comunitária constituída por 24 espigueiros, todos em pedra, que serviam – alguns ainda servem! – para armazenar milho. Não por acaso, há cruzes no topo de cada espigueiro, como que a abençoar as colheitas de um bem tão importante como o milho.
Não menos relevante para o visitante, os espigueiros proporcionam uma visão inacreditavelmente bela; especialmente com as cores quentes do entardecer. Na minha opinião, o conjunto de espigueiros do Soajo é, aliás, mais bonito do que o mais extenso conjunto de Lindoso.
Visitar o Centro Interpretativo e Etnográfico do Soajo
Instalado em pleno Largo do Eiró, epicentro da vila, o Centro Interpretativo e Etnográfico do Soajo é um pequeno espaço que tem como principal objetivo “promover o legado histórico e etnográfico de Soajo, através da promoção e valorização do património cultural e natural”. Uma ideia por si só maravilhosa!
Felizmente, o projeto museológico, com o dedo da Folk & Wild, é dos mais interessantes que vi nos últimos tempos em Portugal. Creio, aliás, que ali se fez um pequeno milagre, apresentando excelentes conteúdos multimedia – e não só! – em pouco mais de 30 metros quadrados. Conte ver entrevistas em vídeo, fotografias e filmagens de outros tempos – muitas delas da autoria do soajeiro António Neto (mais conhecido por Tenais) -, painéis informativos e atividades interativas focados nas gentes e vivências da aldeia.
O centro abriu em agosto de 2022 e, desde então, é para mim um ponto de paragem obrigatória quando visitar o Soajo. É mesmo muito bom! Fica a dica.
Porta do Mezio
Sendo uma das cinco entradas no Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Porta do Mezio funciona como posto de informação sobre as magníficas paisagens das serras do Soajo e da Peneda – território classificado como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO. Ou, nas palavras oficiais, uma espécie de “hall de entrada” no parque.
Definições à parte, a verdade é que a Porta do Mezio funciona não só como ponto de contacto com os profissionais do parque, mas também como local de diversão para toda a família. Entre outras coisas, e para além de um pequeno museu, existem réplicas de casas regionais em miniatura e até uma linha de slide para os mais destemidos.
Lagoas de Travanca
Lembro-me bem das Lagoas de Travanca, localizadas um pouco acima da Porta do Mezio. Era ali que, em miúdo, ia tomar banho nas águas geladas do riacho, saltitando de pedra em pedra por rochas escorregadias demasiado perigosas para uma criança (pelo menos visto com os olhos protetores dos dias de hoje). Mas foi assim que cresci – e ainda bem.
Estava, pois, com enorme curiosidade em revisitar Travanca. Sentia, posso dizê-lo, aquelas borboletas no estômago próprias de quem está prestes a rever uma antiga namorada ou um local de boas memórias.
Assim que lá cheguei, as diferenças eram notórias. O antigo caminho sinuoso por entre fetos, lesmas e sanguessugas tinha sido aberto, transformado numa espécie de estradão de terra batida direto às lagoas. Não creio que fosse necessário – ou sequer desejável -, mas ele lá estava.
Adiante, nova surpresa. Um inútil passadiço de madeira, cuja função não consegui entender, fez-me pensar que só faltaria um baloiço para o cenário da moda estar completo.
Estava um pouco desiludido, a remoer a frase que aconselha a não voltar aos locais onde se fora feliz, quando, descendo até ao rio, num muito aguardado reencontro com as Lagoas de Travanca, encontrei boas notícias. As lagoas continuavam iguais; as águas límpidas como sempre foram; e havia uma corda colocada na parte mais perigosa do acesso às lagoas, a jusante.
Mudanças à parte, e tal como já havia sentido ao revisitar as lagoas do Rio Laboreiro, senti uma emoção tremenda ao calcorrear aquelas pedras. No fim de contas, não é todos os dias que se resgatam boas memórias do baú da vida.
Ponte da Ladeira
A Ponte da Ladeira é uma ponte romana localizada às portas do Soajo. Embora de menores dimensões, a sua estrutura fez-me lembrar a Ponte da Cava da Velha, também em Castro Laboreiro, local que visitei vezes sem conta ao longo dos anos.
Não diria que é um daqueles locais imperdíveis; mas, tendo tempo, não deixe de incluir a Ponte da Ladeira na lista de coisas a visitar no Soajo.
Poço Negro
Não deve haver muitas atividades ao ar livre mais prazeirosas do que inclinar o pescoço e beber água – pura e fresca – diretamente de uma fonte ou riacho. E isso é possível em muitos locais da região do Soajo. Como no Poço Negro, por exemplo.
Trata-se de uma lagoa bastante profunda – especialmente no inverno, quando o caudal das águas aumenta consideravelmente – e rodeada de vegetação e penedos de granito, imagem de marca das serras do parque. A visitar!
Não há estacionamento junto ao Poço Negro – e a estrada é estreita. Tenha, por isso, atenção ao local onde deixa a viatura, para não bloquear o trânsito e com isso prejudicar o quotidiano das gentes locais.
Cascatas do Poço Bento
Mais imponentes são as chamadas Cascatas do Poço Bento, localmente conhecidas como Poço da Banheira. É um local ainda mais bonito do que o Poço Negro, mais ao estilo das já referidas Lagoas de Travanca.
Para lá chegar, há que fazer uma pequena caminhada; o suficiente para que, na maior parte do tempo, tenha menos gente e seja, por isso, um espaço mais tranquilo do que o Poço Negro.
Se procura o que fazer no Soajo e não é daqueles que leva a caixa de som atrás (ou deixa lixo em locais naturais), não deixe de visitar as Cascatas do Poço Bento.
Miradouro Meandros do Lima
Porventura a maior surpresa da minha visita ao Soajo, o Miradouro Meandros do Lima tem vistas sobre uma espetacular curva do Rio Lima em forma de ferradura. Mal comparado, é uma espécie de versão portuguesa do afamado Horsebend Shoe, no Arizona, substituindo a aridez do deserto pelas paisagens verdejantes do Gerês.
O Miradouro Meandros do Lima fica em Cunhas, à distância de uma curta caminhada a pé a partir da estrada municipal 530. Para ser honesto, desconhecia por completo a sua existência (ou, pelo menos, não me lembrava dele). Foi o meu amigo Manuel Lage, natural do Soajo, que fez questão de mo mostrar. E ainda bem que o fez!
Lindoso
Estando no Soajo, vale igualmente a pena fazer a curta viagem até Lindoso. Na verdade, pode até aproveitar e parar no Poço Negro, nas Cascatas do Poço Bento e no Miradouro Meandros do Lima no mesmo trajeto, já que todos ficam na estrada que liga o Soajo a Lindoso.
Uma vez em Lindoso, e para além da aldeia propriamente dita, destaque para a Igreja Matriz, o conjunto de espigueiros e o adjacente castelo, que marca de forma vincada a paisagem da aldeia.
Há ainda a Porta de Lindoso, outra das cinco portas de entrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, dedicada ao tema da “Água e Geologia”. Possui uma exposição permanente onde é possível conhecer como “a paisagem foi modelada pela água e transformada pelo homem, e de que modo é que este, sabiamente, utilizou os recursos naturais disponíveis”. Na altura em que fui a Lindoso, o centro informativo estava encerrado, pelo que não pude visitar a exposição.
Miradouro de Várzea
Visitar o Miradouro de Várzea não estava nos meus planos iniciais mas, aproveitando os longos dias de verão, acabei por passar lá ao final de uma tarde bem preenchida explorando as belezas do Soajo.
Lá de cima, junto à enorme cruz de pedra colocada no ponto mais alto da colina, a vista é assombrosa. À esquerda, a povoação de Várzea e a Serra do Soajo; à direita, Espanha; ao centro, as águas do Lima serpenteando as serranias. Vale a pena (apesar da ventania).
Trilho Caminhos do Pão, Caminhos da Fé (PR7 AVV)
O Trilho Caminhos do Pão, Caminhos da Fé é uma pequena rota circular e sem grande dificuldade, com início no Soajo. Passa junto a alguns moinhos em mau estado de conservação (ligados ao pão, à luta pela sobrevivência em territórios outrora muito pobres) e por trilhos calcorreados pelos chamados Romeiros da Peneda (fé).
É um passeio agradável, com pouco mais de 5km de extensão mas muita diversidade paisagística. Recomendo.
Mosteiro de Ermelo
Localizado na pequena povoação de Ermelo, nas margens do Rio Lima, “o antigo mosteiro, provavelmente edificado por D. Teresa, adotou a ordem cisterciense no final do século XIII, integrando deste modo a área sob influência de Santa Maria de Fiães”.
Quem o escreve é a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, que garante ainda que o plano original de Cister contemplaria “uma igreja de três naves e cabeceira com três capelas quadrangulares”; projeto esse que “não foi concluído, provavelmente por dificuldades económicas da comunidade local”.
Hoje em dia, é possível vislumbrar alguns elementos originais do projeto cisterciense, como a rosácea românica que ilumina a nave central da igreja e vai resistindo ao passar dos séculos. Não menos deslumbrantes são as vistas sobre o rio, a partir da torre sineira.
Outras atividades para fazer no Soajo
Caminhada aquática
Não tive tempo para experimentar, mas há uma atividade em ambiente natural que vale seguramente a pena fazer no Soajo. Falo da chamada Caminhada Aquática, um passeio ao longo do curso do rio que o Manuel Lage, profundo conhecedor da região, organiza para miúdos e graúdos (não é canyoning). Veja em www.soajonomadis.com.
A Soajo Nomadis pode também organizar passeios a pé e travessias na serra em semi-autonomia.
Antiga Casa da Câmara e Prisão
Foi-me dito que está prevista a construção de um museu – creio que etnográfico – no edifício da Antiga Casa da Câmara e Prisão, localizado no Largo do Eiró. Fica a referência, caso o projeto se concretize.
Veja também o texto sobre o que fazer em Arcos de Valdevez.
Mapa com as principais atrações do Soajo
Guia prático
Como chegar ao Soajo
Tendo como referência a cidade do Porto, a melhor forma de chegar ao Soajo é seguir pela A3 até Ponte de Lima e, daí, prosseguir pela IC28, EN203 e EM530, respetivamente. São pouco mais de 110km até ao Soajo.
Onde dormir no Soajo
No Soajo, o ideal é ficar numa casa tradicional dentro da vila. Eu fiquei na Casa do “Ti Viúva”, uma casa da família do meu amigo Manuel Lage, e recomendo sem reservas. Outras alternativas de grande qualidade são as Casas do Cavaleiro Eira e a Casa Rautau.
Caso, por algum motivo, prefira dormir em Arcos de Valdevez (em vez de ficar no Soajo), o Ribeira Collection Hotel é uma opção de grande qualidade. Outra hipótese mais criativa onde tinha adorado ficar era o turismo rural Moinho do Ázere, perto de Arcos de Valdevez; mas não tinha disponibilidade nas minhas datas.
Gastronomia e onde comer
Para além da afamada carne de cachena, uma vaca de pequeno porte típica das zonas montanhosas do Gerês e comum no menu de muitos restaurantes, vale a pena passar pelo restaurante Espigueiro do Soajo para provar o naco de vitela cozinhado em vinho tinto. É delicioso. No centro da vila, não deixe também de ir comer um hamburger de cachena na Taberna Montanh’Arriba.
Num registo mais simples, o Café Jovem é sempre uma boa escolha (ao almoço). Eu acabei por repetir a visita, uma vez que as diárias são saborosas, muito generosas e a preço imbatível (6€, incluindo sopa, prato, bebida, sobremesa e café).
Referência ainda para o pão-de-ló do Soajo que, apesar de me ter sido muito recomendado pelos locais, fica a léguas do meu bem conhecido pão-de-ló de Ovar. Seja como for, prove e diga de sua justiça.
Seguro de viagem
A IATI Seguros tem um excelente seguro de viagem, que cobre COVID-19, não tem limite de idade e permite seguros multiviagem (incluindo viagens de longa duração) para qualquer destino do mundo. Para mim, são atualmente os melhores e mais completos seguros de viagem do mercado. Eu recomendo o IATI Estrela, que é o seguro que costumo fazer nas minhas viagens.