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Branda da Aveleira: cardenhas e abelhas mansas na Serra da Peneda

Por Filipe Morato Gomes
Visitar Branda da Aveleira
Vista da Branda da Aveleira

A Branda da Aveleira é uma das muitas brandas de pastoreio existentes na região de Melgaço – locais em terras altas onde os pastores passavam os meses mais quentes do ano, com os seus rebanhos.

Antes de vos falar da minha visita à Branda da Aveleira, eis uma curta explicação sobre brandas e inverneiras.

O que são brandas e inverneiras

Branda da Aveleira, Serra da Peneda
Branda da Aveleira, Serra da Peneda

As brandas e as inverneiras são núcleos habitacionais temporários, típicos do antigo modo de vida em transumância.

As inverneiras ficavam nos vales e outras zonas baixas da serra, onde o frio não era tão intenso. Eram habitadas durante os meses mais agrestes, sensivelmente de outubro a abril.

As brandas foram instaladas nas zonas altas, onde, durante os meses mais quentes do ano, abundavam pastos férteis para alimentar o gado. Era também uma forma de deixar os terrenos situados a altitudes mais baixas (nas inverneiras) disponíveis para o cultivo do milho e do feijão. As brandas eram usadas durante os meses de verão, sensivelmente de maio a setembro.

Cavalos garranos
Garranos nas proximidades da Branda da Aveleira

Este era um sistema muito comum, por exemplo, nas serras do Soajo e da Peneda-Gerês, região onde continua a haver pessoas a praticar a transumância, alternando entre brandas e inverneiras ao longo do ano.

“Os brandeiros podem ser considerados artistas que moldaram os pedaços de terra nas altitudes, conseguindo meios para a sua economia”, in site oficial da branda.

Partilho, pois, a minha curta experiência a visitar a Branda da Aveleira, a caminho de Castro Laboreiro. Vamos a isso.

Visitar a Branda da Aveleira

Rio Aveleira
Rio Aveleira

Cheguei à Branda da Aveleira sem saber o que esperar. Estaria a branda transformada apenas numa aldeia turística, sem gente nem alma?

Felizmente, não. Pelo menos assim me pareceu.

Nos últimos anos, com o intuito de preservar a riqueza cultural existente na Branda da Aveleira e de rentabilizar o potencial turístico da aldeia, alguns proprietários recuperaram as suas cardenhas (pequenas construções rústicas em pedra onde os brandeiros pernoitavam, sendo o piso inferior destinado ao gado), muitas delas em ruínas, adaptando-as – e muito bem! – para serem utilizadas como alojamento turístico.

Mas a verdade é que a Branda da Aveleira tem gente. Eu, pelo menos, encontrei pessoas da terra enquanto passeei pelos caminhos da branda. E isso deu-me muito prazer.

Cardenha transformada em alojamento turístico na Branda da Aveleira
À direita, uma cardenha transformada em alojamento turístico

Para quem gosta de tranquilidade, a Branda da Aveleira, com intemporais muros de pedra e casas de granito com vista para os prados onde gado e cavalos garranos se passeiam junto ao dócil Rio Aveleira é um local perfeito para deixar o ritmo frenético dos dias urbanos e vivenciar, de perto, a riqueza cultural da paisagem serrana e o quotidiano ligado à agricultura, à pastorícia e – algo que eu desconhecia – à apicultura.

Para além da cultura da batata, do centeio e do feno, muitos brandeiros dedicam-se à apicultura, de onde se extrai mel de ótima qualidade. É o caso de Paulo Gonçalves.

As abelhas mansas (buckfast) da Branda da Aveleira

Colmeias de abelhas mansas na Branda da Aveleira
Paulo Gonçalves abrindo uma das suas colmeias

Não muito longe do núcleo urbano da Branda da Aveleira conheci Paulo Gonçalves.

Sem fato de proteção, luvas ou máscara de apicultor, Paulo mostrou-me as suas abelhas mansas; tão dóceis que nem quando ele abriu a colmeia e cortou alguns favos de mel para provar o atacaram.

Mel das abelhas buckfast
Provar o mel da Branda da Aveleira

É essa, aliás, a característica principal das abelhas buckfast, uma raça de abelhas resultante do cruzamento de muitas subespécies desenvolvida pelo irmão Adam, encarregado da apicultura na abadia de Buckfast, no Reino Unido – e que Paulo trouxe para Melgaço.

E por ali fiquei, enquanto as colmeias eram abertas e as abelhas pousavam docilmente nos braços e mãos dos presentes. Uma experiência inesperada, confesso.

O mel, esse, é delicioso!

Favo de mel produzido pelas abelhas buckfast
Favo de mel produzido pelas abelhas mansas de buckfast na Branda da Aveleira

Tudo somado, creio que visitar a Branda da Aveleira é uma experiência muito interessante. Só tenho pena de não ter lá ficado a dormir.

Para outras ideias na região, veja o texto sobre o que fazer em Melgaço.

Guia prático

Como chegar à Branda da Aveleira

Tendo como referência a cidade do Porto, a melhor forma de chegar a Melgaço é seguir pela A3 até Ponte de Lima e, daí pela IC28 e EN202 até à Branda da Aveleira. São pouco mais do que 140km de viagem (veja aqui a localização da branda no Google Maps).

Note, no entanto, que o trajeto mais curto atravessa as serras do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Caso prefira uma viagem mais confortável (embora mais longa), opte por seguir a A3 até Valença e prosseguir pela EN101 até Monção; antes de virar no lugar de Aspras em direção à Branda da Aveleira.

Onde dormir

Eu acabei por não pernoitar numa das muitas casas de turismo de aldeia existentes na Branda da Aveleira – ou na vizinha Branda de Santo António -, mas estou certo que teria sido uma experiência fantástica.

Caso pretenda um lugar para relaxar em ambiente rural (e desligar do mundo), qualquer uma das brandas oferece casas de turismo rural muito recomendáveis.

No caso da Branda da Aveleira, são disso exemplo as Casas dos Barreiros, a Casa do Azevinho e um conjunto de outras casas na Branda da Aveleira (incluindo a Casa da Bica).

Quanto à Branda de Santo António, atente na unidades Cardenha da Bessada, Miradouro da Branda ou Casa da Branda Santo António.

Pesquisar casas de turismo rural na Branda da Aveleira

Onde comer

A maioria das casas de turismo rural na Branda da Aveleira têm cozinha. Caso queira comer fora, a boa notícia é que há um novo restaurante na branda, chamado O Brandeiro, onde pode provar carne de cachena. Nunca lá fui, pelo que não posso falar da qualidade da comida ou do atendimento.

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Filipe Morato Gomes

Autor do blog de viagens Alma de Viajante e fundador da ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, já deu duas voltas ao mundo - uma das quais em família -, fez centenas de viagens independentes e tem, por tudo isso, muita experiência de viagem acumulada. Gosta de pessoas, vinho tinto e açaí.

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